Nacional
CAMBRIDGE:

Forte adesão à greve em dia de prova escrita

04 de maio, 2015

"Esta prova é um verdadeiro abuso", reafirmou Mário Nogueira, em Lisboa (6/05/2015). Reportagem SIC Notícias (com declarações de Mário Nogueira)

Falando aos jornalistas, o Secretário Geral da FENPROF sublinhou a elevada participação na greve ao serviço relacionado com o "Exame Cambridge", que teve no dia 6 de maio a componente escrita, para a qual, recorde-se, foram convocados professores de Inglês (secretariado) e de outras disciplinas (vigilâncias). Os docentes, de Inglês ou não, convocados para esta componente escrita, deram uma resposta firme a quem insiste neste "abuso". 

Uma delegação do Secretariado Nacional da  FENPROF (Mário Nogueira, Anabela Sotaia e Ana Simões) entregou nesse dia, na Polícia Judiciária (à hora de realização da componente escrita), um dossiê com novos documentos que irão juntar-se aos que já anteriormente tinham sido apresentados na Procuradoria-Geral da República. 

Como referiu Mário Nogueira às equipas de reportagem que se deslocaram ao edifício da PJ, em Lisboa (foto JPO), a FENPROF compromete-se a entregar nesta Polícia documentos que considera importantes para esclarecer todo o contexto do processo Cambridge.

"Teria facilitado o ministro se, quando questionado sobre a matéria, já no ano passado, tivesse esclarecido todas as dúvidas que se colocam aos professores e que a FENPROF, diversas vezes, lhe apresentou. Lamentamos que não tenha agido nesse sentido. A FENPROF acabou por colocar essas dúvidas na Procuradoria-Geral da República tendo, então, sido aberto o processo que, entretanto, deu origem ao inquérito em curso", observou o dirigente sindical.

Voltando à greve e à luta dos docentes nesta quarta-feira, Nogueira deu exemplos expressivos da forte participação em várias escolas, de diferentes regiões do país, e também das irregularidades cometidas: um vigilante por sala, vigilantes convocados em cima da hora (sem formação), docentes deslocados, atrasos no início da prova, etc "Foi um vale tudo".

O dirigente sindical voltou a destacar a solidariedade da FENPROF com os docentes envolvidos nesta luta, lembrando também, uma vez mais, que "os docentes de Inglês foram retirados das suas aulas, com as suas turmas, deixando também, muitos alunos sem apoios."

"Esta é, sem dúvida, uma questão profisional. Os professores querem trabalhar com os seus alunos", referiu Mário Nogueira.

"Com a sua adesão à greve, os professores pretenderam dizer ao MEC que exigem respeito pelo seu trabalho, rejeitando ser tratados como “pau-para-toda-a-obra”, com a imposição de tarefas que saem do âmbito das suas funções; disseram ainda que exigem respeito pelos seus alunos e pela atividade que lhes está atribuída nas escolas, não compreendendo por que razão foram anuladas aulas em muitas escolas e, no caso dos professores de inglês, em nome da avaliação da proficiência linguística dos alunos, são anuladas aulas, quer devido à sua participação em ações de formação, quer ao calendário de provas orais que, em muitos casos foi elaborado", destaca uma nota de imprensa entretanto divulgada pelas organizações sindicais ( ASPL, FENPROF, SEPLEU, SINAPE, SIPE, SIPPEB e SPLIU).

Se o MEC prolongar o período de exames para além de 22 de maio, será apresentado novo pré-aviso de greve. / JPO

 

Da nota de imprensa de 4/05/2015:

O “Exame Cambridge” nasceu mal e dificilmente se corrigirá. No ano passado, a participação dos professores era voluntária e dada a sua insuficiente adesão, o MEC decidiu torná-la obrigatória este ano.

Passando por cima de qualquer outro interesse, nomeadamente o dos alunos, os professores foram retirados das aulas, dos apoios, das substituições, da coadjuvação e de outras atividades que desenvolvem nas escolas e “convocados” para formação presencial. De seguida, foi-lhes enviada uma password para acederem a uma plataforma informática onde teriam de realizar um infindável número de exercícios. Por fim, durante várias semanas, estavam obrigados a deslocarem-se a outras escolas para realizarem as provas orais aos alunos do 9.º ano e de outros anos, neste caso, por participação voluntária. Saliente-se que algumas provas orais estão a ser marcadas na componente letiva dos professores e/ou em horário de aulas dos alunos, como são exemplos os Agrupamentos de Escolas de Aguiar da Beira, ou Cândido Figueiredo, em Tondela.

Recorda-se que esta prova foi estabelecida em 13 de setembro de 2013, através de protocolo então divulgado e que envolveu diversas entidades privadas, dois dias depois de o MEC ter criado, por despacho, um teste diagnóstico (com componente escrita e oral) a todos os alunos do 9.º ano que, por coincidência, dois dias depois foi aproveitado pelo consórcio que assinou o protocolo para também ser a prova que permitiria a certificação pela Cambridge.

Professores, instalações escolares e dinheiro público foram colocados à disposição deste processo de forma que a FENPROF considera abusiva. Apanhados de surpresa, os professores, num primeiro momento, compareceram no processo, mas, aos poucos, foram percebendo o abuso a que estavam a ser sujeitos e nem as ameaças que, em alguns casos, sobre si se abateram, os fizeram hesitar: aderiram à greve a toda a atividade relacionada com este processo, colocando acima de qualquer outro interesse o dos seus alunos e o das suas escolas.

Face à adesão dos professores à greve, algumas escolas começaram a convocar docentes que não realizaram a formação e o MEC alargou o período de realização das provas orais por mais duas semanas, mas, à medida que o tempo passa, e descontentes com a sobrecarga de trabalho que se vai acumulando sobre quem ainda estava envolvido no processo, são cada vez mais os professores em greve a esta atividade, incluindo alguns que coordenavam o processo nas suas escolas.

Os exemplos surgem um pouco de todo o país: não se realizaram provas orais em Aveiro, na Escola Dr. Jaime Magalhães Lima; em Braga, na Escola Básica do Arco de Baúlhe; na Covilhã, na Escola Básica de Tortosendo; em Gouveia, na Escola Secundária de Gouveia e na Escola Básica de Vila Nova de Tazem; em Lisboa, no Agrupamento de Escolas António Damásio; em Almada, nos Agrupamentos de Escolas Anselmo de Andrade e Emídio Navarro; em Oeiras, na escola Secundária Luis de Freitas Branco; no Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital, na Escola da Ponte das Três Entradas; em Viseu, no Agrupamento de Escolas Viseu Norte, na Escola Básica N.º 3 de Mundão e na Escola Secundária de Viriato, só para citar alguns exemplos. Na Escola Básica Joaquim de Barros, em Oeiras, são os alunos que têm faltado às sessões (cerca de 20% por sessão).

Acresce que, apesar de haver um número significativo de professores de Inglês em greve às atividades relacionadas com este processo, muitas provas orais têm sido realizadas à custa dos professores do ensino privado, que são muito pressionados pelas entidades patronais, e da acumulação de trabalho sobre os professores do ensino público que ainda não aderiram a esta greve (...)

O Secretariado Nacional da FENPROF
4/05/2015