Nacional
Entregue Prémio Novela e Romance Urbano Tavares Rodrigues

“O Rei do Monte Brasil”, de Ana Cristina Silva

12 de outubro, 2013

Prémio Novela e Romance Urbano Tavares Rodrigues
promovido pela FENPROF e pela SECRE, entregue em Lisboa (12/10/2013)

Paulo Sucena, presidente do júri, lembrou que este é um prémio que tem como mecenas a SECRE e dinamizador a FENPROF. Uma parceria que valoriza, também, a qualidade do próprio prémio.

A FENPROF ao escolher Urbano Tavares Rodrigues para patrono deste prémio, fê-lo pela figura de escritor e cidadão que foi, lembrou para elevar a pessoa, a obra, e a pessoa que Urbano foi e representa, cujo contributo foi muito para além da qualidade da sua obra e da oportunidade do seu exercício de cidadania

Quanto à edição deste prémio registou nada ter ficado a dever ao prémio de poesia de 2012, já que no conjunto das obras a concurso foi de grande qualidade. Apontou o significativo número e a qualidade das obras a concurso.  Para dizer que num tempo de negritude da democracia, o elogio aos professores por tornarem esta edição do prémio num momento enriquecedor é perfeitamente justificável. O júri não teve tarefa fácil, mas decisão foi unânime.

"O Rei do Monte Brasil" é feito de capítulos harmoniosamente orquestrados e é   “Um romance que dá prazer de ler e de reescrever enquanto se lê”, declarou.

Ana Cristina Silva, a autora, não escondeu a emoção e manifestou-se grata por receber um prémio com o nome de Urbano, pelo que foi e pelo que fez, atribuído por um júri que ainda mais o valorizou (Clara Crabbé Rocha, José Manuel Mendes e Paulo Sucena). Aproveitou o espaço público que lhe atribuíram para dirigir duras críticas ao actual governo pela sua política destruidora e pelo desdém que tem revelado em relação à cultura e à arte. “Parabéns à FENPROF por contrariar esta lógica”, acrescentou.

Para todos quis deixar a mensagem de que “sem cultura e sem educação não há futuro” e de que acredita no “poder transformador da cultura e da educação”. Quase a terminar Ana Cristina Silva disse que ter a honra de ver reconhecido o seu valor compensa os períodos mais negros do processo de construção da obra por que passa qualquer escritor, para lembrar que sem, leitores não há livros.

Da SECRE, Paulo Loureiro declarou que este patrocínio do Concurso Literário da FENPROF, iniciado em 2012 é feito com muito prazer e dedicação. “Os professores têm muito a dar ao país”. A SECRE, acrescentou, está envolvida neste prémio convictamente e assim estará se para tal continuar a ser solicitada.

No final, o Secretário-Geral da FENPROF registou o enorme reconhecimento e satisfação pelo júri, pelo patrocinador, pelo facto de a FENPROF destacar o que de melhor os professores fazem, mas também pelo facto de este prémio ter sido entregue a uma autora que, nas poucas palavras que escolheu para a sua declaração na entrega deste prémio, revelou um carácter de que ficámos todos, também, a gostar.

Para a FENPROF, disse Mário Nogueira, há a intenção de continuar com esta iniciativa, pois continua a destacar o tanto e tão bom que os professores, independentemente da sua condição profissional vêm fazendo em favor da arte e da cultura.

Intervenção de Ana Cristina Silva

"Queria agradecer à FRENPROF, à SECRE e  ao júri a honra deste  prémio. Não posso também deixar de agradecer à minha editora, Maria do  Rosário Pedreira.

 Esta honra é, sem dúvida, engrandecida pelo nome do escritor, Urbano Tavares Rodrigues, recentemente falecido, que dá nome ao prémio,  a quem se reconhece não só uma enorme qualidade literária como a imensidão de uma grande alma. Diziam que ele era um amigo dos escritores jovens e eu posso testemunhá-lo, na generosidade  da recensão que fez para a Gulbenkian do meu primeiro romance, Mariana Todas as Cartas.   

Não posso deixar de saudar a FRENPROF pela instituição deste prémio, nesta época especialmente conturbada. Portugal vive uma das mais intensas e marcantes crises económicas, de identidade, de conhecimento, de crescimento e de educação. A governação actual deste país é marcada pelo desprezo e insensibilidade em relação à arte e à educação.   Ao instituir este prémio, nesta altura, a FRENPROF marca posição  contra o desdém  a que a cultura está neste momento votada pelos actuais governantes.  Não é demais também afirmar que cabe em parte aos escritores e poetas  falar mais alto e não deixar morrer a cultura, lutar contra ignorância que continua a vaguear  como por um deserto devastado por ventos adversos. É que sem cultura e educação não há futuro.

Este prémio está associado às minhas duas principais paixões: a educação e a literatura. Acredito no poder transformador da literatura e da educação. As histórias criam viagens temporárias e os passageiros que nelas embarcam  são desafiados para novas visões que os mudam e tocam.  De certo modo, as pessoas podem ser mudadas pelos livros e, nesse sentido, os livros podem mudar a sociedade.  Se é verdade que a literatura tem um potencial transformador  a educação, não o tem menos e qualquer professor sabe que a sua profissão define destinos e  marca novos rumos e, por isso, contra ventos e marés, a maior parte dos professores continua a amar o que faz. 

Ainda umas palavras relativas ao labor da escrita. As histórias aparecem ao seu autor como fantasmas que precisam de encarnar. Foi desta maneira que me apareceram Gungunhana e Mouzinho de Albuquerque. Um autor, ao escrever, vive sempre paredes-meias com o potencial fracasso (a indecisão em relação à continuação da história, a diferença entre o romance idealizado e o conseguido, o medo de não conseguir chegar ao fim),  cujos termos são geralmente secretos. Ter a honra de ver reconhecido o meu labor compensa os momentos mais negros desse espectro. Tenho de acabar com um palavra de agradecimento aos leitores, pois, como dizia Saramago, não há livros sem leitores." / Ana Cristina Silva  


Declaração do Presidente do Júri, Paulo Sucena

Imagens da Iniciativa