Nacional

Do terrorismo na França ao crime na Turquia

18 de julho, 2016

A Democracia sofreu dois fortes reveses nos últimos dias: o atentado de Nice, cujos contornos parecem já bem definidos; o golpe de estado na Turquia, que continua a levantar fortes suspeitas sobre quais os seus verdadeiros propósitos.

Sobre Nice, tratou-se de mais um ataque selvagem desferido contra população inocente que celebrava o seu dia, sendo, contudo, estranho que num país que vive em estado de alerta elevado contra o terrorismo, tivesse sido tão fácil entrar em zona interditada ao trânsito com um enorme camião não identificado, alegadamente para vender gelados. Alguém se distraiu, decerto, facilitando a vida aos criminosos.

Quanto à Turquia, as coisas são, efetivamente, mais difíceis de compreender e quando começam a surgir rumores de que tudo poderá ter sido preparado para reforçar o poder do presidente, não é difícil admitir que seja essa a verdade. O governo turco é um governo que desrespeita as mais elementares regras da democracia. Erdogan, há muito que persegue quem contesta as suas políticas e os sindicalistas, como tantos outros, sabem bem disso, vítimas que são de permanentes perseguições, de julgamentos fantoches e de prisões arbitrárias.

Estamos perante um governo que pratica o crime para fazer valer a sua razão, precisamente por falta dela. Não surpreenderia, por isso, que esse mesmo governo tenha planeado o “golpe de estado falhado” para, assim, ganhar argumentos para atacar ainda mais quem se lhe opõe, prendendo milhares de pessoas, tivessem apoiado, condenado ou ignorado o “golpe”, e admitindo voltar a aplicar a pena de morte. Se tal acontecer naquele país, será apenas voltar a dar suporte legal ao que nunca deixou de ser uma prática, em particular, quando se fala do povo curdo.

Erdogan foi eleito presidente pelos turcos, é verdade, mas Hitler também tinha sido pelos alemães… O que se passa na Turquia, incluindo as grandes manifestações de apoio popular ao presidente, não tornam aquele país uma democracia, pelo contrário, fazem lembrar alguns dos tempos mais negros vividos na Europa. / Mário Nogueira, Secretário Geral da FENPROF