Nacional
Entrevista rápida a Mário Nogueira

Para os senhores de amarelo, "a democracia esgota-se na sua verdade e quem não a aceita é alvo dos mais variados impropérios"

12 de junho, 2016

1. Na passada sexta-feira, o movimento que exige que o Estado pague colégios privados onde existe resposta pública produziu novo delírio, mais uma vez, de forma grosseira e destilou venenos contra cidadãos e organizações. Na origem esteve o apelo que o PS divulgou à participação na Marcha de 18 de junho em defesa da Escola Pública. Segundo os senhores que vestem de amarelo “Faz muita impressão ver o PS aliar-se à extrema-esquerda e ao mais empedernido corporativismo contra as comunidades, contra as famílias, contra os trabalhadores e os professores que apenas lutam pelo que consideram ser as suas razões e os seus direitos”…
Como comentas esta “pérola” do delírio amarelo?

Mário Nogueira (MN): Em minha opinião, estes senhores atuam à margem de todos os limites da decência, ainda que isso lhes pareça normal, pois foi sempre assim que viveram, acima de tudo e de todos, zelando apenas pelos seus interesses particulares. Acham-se os donos da verdade e, por isso, da razão e do direito, revelando uma tremenda intolerância face a quem tem opinião diferente da sua, ainda que esses sejam amplamente maioritários na sociedade portuguesa.

Está visto que, para estes senhores, a democracia esgota-se na sua verdade e quem não a aceita é alvo dos mais variados impropérios. A novidade, desta vez, é acharem-se no direito de mandar calar quem emite posição diferente da sua. Mas se acham que o PS não deveria ter posição sobre esta matéria, por que foram para a porta do seu Congresso? Parece que o problema não é o PS ter posição, mas esta ser diferente da sua. E se dúvidas existissem, bastava ver a forma como foram acolhidas as posições de PSD e CDS. Não deveriam também ter ficado calados, ou isso é só quando não interessa a posição? Já em relação aos que chamam de extrema esquerda [PCP, PEV e BE], a questão é exatamente a mesma: quem não veste de amarelo vai nu e, portanto, há que denegrir e enxovalhar.

Recordo que até já tentaram colocar o Presidente da República a tomar posição por si, obrigando a Presidência a emitir desmentido. Estejamos atentos… quem se move por interesses particulares, fazendo-os prevalecer ao bem comum e se limita a olhar para o que lhe entra no bolso é mesmo capaz de tudo se lhe derem confiança…

2. Já se percebeu que os senhores de amarelo estão muito preocupados com a Marcha de 18 de junho, que, dizem já em desespero, reflete “preocupações partidárias e corporativas de ‘não perder a rua’ para um movimento espontâneo da sociedade civil, que é rigorosamente independente, transregional e profundamente desinteressado nos seus fins”...
O que é que vai nestas cabeças? "Rigorosamente independente"?...

MN: Bem, eles não dizem independentes de quê… são-no, da facto, em relação aos valores democráticos consagrados na Constituição da República. De resto, todos sabemos quem promove estas movimentações: os empresários do setor, que têm natureza diferente, mas interesse único. Empresários que contam com o apoio de uma direita que já defendeu o fecho de escolas públicas para deixar os privados em roda livre.

Ultimamente, porém, esta tem-se resguardado mais porque percebeu que a grande maioria da população está com a Escola Pública. Mas é apenas tática para não perder votos. Quanto à preocupação que possam ter com a Marcha de dia 18, é absurda. Não têm de se preocupar, pois a intenção não é comparar esta marcha com a manifestação que, há dias, juntou cerca de dez mil pessoas frente ao Parlamento, nem tão-pouco responder às provocações de alguns desses senhores de amarelo.
Dia 18, na Marcha em que participaremos, o objetivo será reafirmar a importância da Escola Pública para Portugal e os Portugueses. A Marcha não será contra ninguém, mas a favor de todos, ou não fosse a Escola Pública a Escola para Todos!
 

3. Mas os senhores de amarelo não ficam por aqui. No absurdo comunicado emitido em 10 de junho “garantem” que, “mais tarde ou mais cedo, os tribunais irão decidir que os contratos de associação que estão em vigor não podem ser interrompidos”… Como comentas esta terceira “pérola”?

MN: Uma afirmação desse tipo não merece qualquer comentário. Os tribunais tomarão as suas decisões e só então se verá. É evidente que quem não admite posições diferentes das suas, nem lhe passa pela cabeça que os tribunais, ou seja quem for, ouse decidir de uma forma que não seja a que serve o seu interesse, ainda que esse obrigue o Estado a duplicar despesa, servindo o bem comum, por um lado, e, por outro, satisfazendo vícios privados. Mas, lá está, essa é a parte visível do estado delirante.