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JPO

O sonho de Van Zeller

05 de fevereiro, 2008

Bem sei que o Governo está cheio de "Van Zellers", a começar pela 5 de Outubro. Mas o verdadeiro Van Zeller de nome, o próprio, o presidente dos patrões da indústria (CIP), é único e veio agora dar a cara por um parecer da sua organização (sobre o Livro Branco das Relações Laborais) que é, temos que admitir, uma peça notável.

O pensamento do núcleo duro da CIP em relação aos que, com o seu trabalho, garantem os lucros das empresas, está ali "preto no branco" e vale a pena conhecê-lo.
Para Van Zeller não há cidadãos-trabalhadores. Há uns robots que se contratam e que produzem mais valias. Depois, quando começam a ter algum uso devem ser substituídos. Uma espécie de equipamento descartável. Que o patrão pode considerar fora de prazo quando muito bem entender...
Vejamos os "argumentos" da CIP:
"Não raro, as empresas estão apenas carecidas de trabalhadores diferentes e não de menos trabalhadores. É essa renovação que também se tem de possibilitar".
Na perspectiva da organização patronal dirigida por Francisco Van Zeller, a possibilidade de despedir não pode limitar-se a casos de motivos disciplinares, de "inadaptação" do trabalhador ou de necessidade de reduzir pessoal: "daí que a renovação do quadro deva ser integrada como fundamento legitimador" para a dispensa do trabalhador.
E já agora, a CIP recorda também que é "fundamental" o alargamento das possibilidades de despedimento por "inadaptação". Para além da introdução de modificações no posto de trabalho deve ser considerada a "perda de capacidades por parte do trabalhador, com reflexos na produtividade ou qualidade do seu desempenho".
O que Van Zeller não disse (por enquanto) é que não bastam as ameaças de despedimento, os baixos salários e a pouca formação. É preciso regressar aos tempos da revolução industrial e da exploração desenfreada da mão-de-obra. Sem direitos. Naturalmente, a bem da competitividade... / JPO