Ciência
Lusa, 1/O3/2005

Universidade dos Açores inicia projecto-piloto para reabilitar Lagoa das Furnas

04 de março, 2005

O departamento de Biologia da Universidade dos Açores (UA) iniciou um projecto-piloto de dois anos para contribuir para a reabilitação da Lagoa das Furnas, ameaçada por um processo progressivo de eutroficação das suas águas.

O projecto foi hoje formalizado com a assinatura de um protocolo entre a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar e a Universidade dos Açores, e prevê a redução significativa da população de carpas e de ruivos através de acções de pesca, apontando para um valor indicativo de 20 quilos de peixe por hectare.

Dirigido à biomanipulação (intervenção ao nível das cadeias tróficas), o projecto para a Lagoa das Furnas - um dos principais pontos turísticos dos Açores - inclui também uma monitorização da evolução dos parâmetros ambientais, do zooplâncton e dos peixes.

A secretária regional do Ambiente e do Mar referiu-se à "importância do projecto", que vai possibilitar retirar cerca de 30 toneladas de carpas, as quais contribuem para acelerar o processo de eutroficação (excesso de nutrientes nas águas), ao removerem os sedimentos.

Ana Paula Marques salientou, porém, que este projecto não encerra o plano do Governo regional para salvar as lagoas das Furnas e das Sete Cidades e anunciou outras obras de "extrema importância", caso da construção de mais bacias de retenção, que permitam desviar o curso de água.

De acordo com a governante, o Governo dos Açores vai implementar também um plano de requalificação ambiental na Lagoa das Furnas e Sete Cidades, um investimento realizado por uma empresa pública a criar brevemente, com a designação de Natureza Viva.

Segundo Ana Paula Marques, o plano passa pela requalificação ambiental, reflorestação de 207 hectares de floresta nas Furnas, assim como pelo embelezamento paisagístico das margens da lagoa.

"Vão ser igualmente elaborados projectos de estudos científicos, de redução do encabeçamento [número de animais nas explorações] e uma panóplia de intervenções que o Governo Regional vai realizar durante os quatro anos de legislatura", acrescentou.

Ana Paula Marques salientou que não é possível que se possa atingir nos próximos quatro anos "a mesma qualidade" de água nas lagoas que existia há 20 anos, ao fazer notar que se trata de "um plano de médio e longo prazo".

Relativamente a estudos universitários que apontam as pastagens permanentes como uma das principais causas da degradação das lagoas, a secretária regional do Ambiente e do Mar adiantou que será proibido o maneio de animais numa faixa de 50 metros da margem das lagoas.

"Serão igualmente realizadas acções de sensibilização aos agricultores e vamos reduzir o encabeçamento", sublinhou a secretária regional, ao assegurar que existirão zonas onde os agricultores poderão desenvolver a sua actividade, mas serão construídos mecanismos para "evitar que os nutrientes cheguem" às águas.

A responsável garantiu ainda que o Governo regional vai desenvolver um plano para atribuição de indemnizações aos agricultores e "tentar encontrar" novas actividades económicas relacionadas com o turismo.

O Reitor da Universidade dos Açores referiu que a recuperação das duas mais importantes lagoas do arquipélago exige "um empenhamento" colectivo, embora à instituição de ensino superior e ao Governo Regional caiba um "papel determinante" na "sensibilização dos homens" para a "protecção da natureza".

Lusa, 1/03/2005