Acção reivindicativa

Debate - Ensino Superior, Défices e Reformas

22 de setembro, 2005

com André Freire, António Mendonça e José Tribolet

A caracterização da actual situação económica, subjacente às anunciadas medidas do Governo para controlo do défice, e os desafios que se colocam a Portugal no plano da divisão internacional do trabalho são temas que, pelas suas repercussões sociais e no conjunto dos direitos dos trabalhadores, particularmente os da Administração Pública, preocupam as organizações sindicais como o SPGL, cuja actuação não pode deixar de perspectivar os vários caminhos possíveis para o desenvolvimento do nosso país.

Foi nesse contexto que o Departamento do Ensino Superior do SPGL realizou na tarde de 27 de Junho um debate sob o lema "Ensino Superior, Défices e Reformas", que reuniu na Mesa do Anfiteatro III da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa os docentes universitários André Freire, do ISCTE; António Mendonça, do ISEG; e José Tribolet, do IST.

A oportunidade e pertinência das medidas anunciadas pelo Governo quanto ao equilíbrio das contas públicas e à reforma do Estado; o desenvolvimento sustentável do País, coesão social e desafios da competitividade e da globalização económica; e a relevância da função social do Ensino Superior estiveram em foco neste debate, introduzido e moderado por João Cunha Serra, docente do IST e coordenador dos Departamentos do Ensino Superior da FENPROF e do SPGL.

"Pouco está a ser feito para repartir os sacrifícios por todos", sublinhou André Freire, que chamou a atenção para as flagrantes contradições entre as promessas eleitorais e a realidade governativa. Para o docente do ISCTE, registam-se "dualidades, contradições e hesitações" em matérias essenciais como o sigilo bancário ou a fraude e a evasão fiscal.

António Mendonça concordou com André Freire quanto à incorrecta divisão dos sacrifícios, sublinhando mais adiante que a Banca deveria estar mais empenhada na criação de condições para o desenvolvimento do sector produtivo. "A crise orçamental que se vive é a ponta do iceberg", afirmou o economista, que falou também de uma "crise de liderança, uma falta de pessoas com visão na Europa e em Portugal". Para António Mendonça, há "uma crise mais profunda na sociedade portuguesa que é a crise económica". Depois de salientar que não houve nos últimos anos uma estratégia para a inserção da economia portuguesa na economia europeia e mundial, o docente do ISEG realçou que Portugal tem pela frente três desafios fundamentais: de centralidade, de escala e de especificidade.

"É urgente uma mudança de atitudes, valores e comportamentos nas escolas, nas universidades e na sociedade em geral", destacou José Tribolet, que falou da necessidade de ligação dos estudantes, dos professores e das escolas ao trabalho concreto, "ao país real". O docente do IST alertou para as consequências de políticas desarticuladas e para o "brutal choque de gerações" que essas políticas podem vir a provocar.

Os elementos que constituíram a Mesa deste debate sublinharam a importância estratégica do Ensino Superior para o desenvolvimento do País, tendo mostrado alguns receios quanto à concretização dos aspectos mais positivos que Bolonha poderá trazer para o panorama do ensino superior em Portugal.

JPO