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"O projecto foi entregue em Fevereiro e as reacções foram positivas"

Católica e Grupo Mello "confiantes" na aprovação de um hospital universitário

28 de novembro, 2003

A Universidade Católica Portuguesa e o Grupo José de Mello Saúde estão confiantes de que a sua proposta para a construção de um hospital universitário será aceite pelo Governo. O projecto foi entregue em Fevereiro e as reacções foram positivas, anunciaram ontem o reitor, Manuel Braga da Cruz, e o presidente do grupo Mello, Salvador Mello, numa conferência de imprensa, em Lisboa.  

A universidade e o grupo assinaram um acordo de parceria para o desenvolvimento do projecto de um hospital universitário na zona ocidental da área metropolitana de Lisboa. "As reacções que encontrámos da parte do primeiro-ministro e dos ministros da Saúde e da Ciência e do Ensino Superior foram de acolhimento, de querer estudar a proposta com todo o interesse. Não houve uma recusa. O que nos foi dito é que o projecto preenche algumas das necessidades que o Governo sente existir nessas áreas", declara Braga da Cruz.  
 
O projecto será desenvolvido no âmbito das Parcerias Público-Privadas, anunciadas pelo Ministério da Saúde para a construção de dez novos hospitais até 2010. Até agora, estava apenas previsto um hospital universitário em Braga, mas na semana passada a ministra da Ciência e do Ensino Superior falou pela primeira vez na possibilidade de existir mais de uma faculdade de medicina no âmbito destas parcerias.  
 
Neste projecto, apresentado ao primeiro-ministro no início do ano, caberá à José de Mello Saúde a construção de um hospital que sirva a área ocidental da cidade - que está em franca expansão - e à Católica a formação universitária de médicos, enfermeiros e outros técnicos. O grupo Mello vai concorrer à construção e exploração de todas as novas unidades de saúde. Mas este projecto, referiu Salvador de Mello, é diferente porque prevê a construção de uma faculdade, logo terá custos superiores aos de uma unidade vulgar.  
 
Embora os parceiros não levantem ainda o véu sobre a dimensão do hospital, prevêem que será maior do que o estabelecido pelo Ministério da Saúde (MS) para a área de Sintra, que teria 200 camas. "O Governo terá que reequacionar", considera Salvador Mello. "Um hospital universitário precisa de ter muitos doentes e muitas doenças. Quanto mais ampla e mais vasta for a casuística, mais se pode ensinar", justifica Braga da Cruz. "Não é com um hospital de 200 camas que se tratam casos mais complexos", acrescenta Salvador Mello.  
 
Católica e grupo Mello querem construir um hospital de "referência" onde sejam oferecidos "cuidados totais". "Falta uma grande unidade que seja de referência e vantajosa para as populações", defende o reitor da Católica. Apesar disso, os parceiros estão disponíveis a "adequar o projecto" ao concurso que poderá ser aberto, pelo Governo, ainda este ano.  
 
Há mais de uma década que a Católica almeja por uma faculdade de ciências da saúde. A última vez que a universidade abandonou o sonho foi 1995, lembra o reitor. Para a universidade é importante marcar pontos numa área como a da saúde e da vida, "onde se vão jogar grandes questões humanas".  
 
Director da Faculdade de Medicina de Lisboa critica aumento de vagas  
  
O director da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FML), Martins e Silva, criticou a abertura de novos cursos de medicina e o aumento de vagas nos já existentes, alegando que não há falta de médicos em Portugal. "A falta de médicos em Portugal é um mito; o que há é má distribuição, tanto geográfica como a nível das especialidades", sustentou o director da FML, referindo que o número de profissionais no país é até superior à média europeia.  
 
Apesar disso, haverá um aumento de cerca de 300 vagas de medicina no ensino superior público já no próximo ano e, paralelamente, o Ministério da Ciência e do Ensino Superior pretende dar luz verde à criação de dois cursos privados, que deverão arrancar em 2005. Para Martins e Silva, as faculdades de medicina não deveriam admitir mais de 150 alunos por ano, um número que já foi largamente ultrapassado na FML - em 2003, entraram 245 estudantes - e que deverá aumentar ainda mais no próximo ano lectivo, chegando às 270 vagas. "O número de vagas já foi baixo mas, neste momento, é um disparate e aumentá-lo será ainda mais caótico", disse.  
 
O responsável acrescentou que não existem condições na faculdade para receber mais estudantes, sem pôr em causa a qualidade do ensino. De acordo com o director da FML, o problema da saúde em Portugal relaciona-se também com uma carência de enfermeiros, que, segundo diz, impede o bom funcionamento de alguns serviços hospitalares. "Há cerca de 20 mil enfermeiros a menos e, estranhamente, não se ouve o Governo falar no aumento de vagas em enfermagem ou na criação de novas escolas."  
 
De acordo com o Plano Estratégico para a Formação nas Áreas da Saúde, publicado em Dezembro de 2001, o número de novos licenciados, até 2016, será sempre superior ao número de aposentações. Contudo, o Plano alerta para a possibilidade de se registar uma falta de médicos entre 2016 e 2019, período em que os valores se invertem, ainda que seja igualmente de prever que a situação retome a normalidade em 2021. Por isso, o director da faculdade de Medicina considera que as vagas actualmente existentes são suficientes para colmatar esse período de carência.  

"Público", 27/11/2003