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Alfândega

Porto recebe maior exposição de sempre de Júlio Resende

05 de outubro, 2007

É a melhor exposição antológica de Júlio Resende, um homem da chamada "Escola do Porto" e que assinala o seu 90.º aniversário (23/10). São mais de 200 obras de diversas fases do artista que pertencem a várias colecções privadas e oficiais. O Presidente da República foi ao Porto inaugurar a mostra e prestar assim a homenagem a um dos grandes nomes da arte contemporânea portuguesa. Júlio Resende completa 90 anos de idade e teve pela frente o que se chama um dia grande. Ao lado da mulher, Zita Leão, a filha Marta e o neto Daniel, Resende, nome grande da arte contemporânea, desceu à Alfândega do Porto ( a pouco mais de 500 metros do seu painel "Ribeira Negra") e reencontrou-se com mais de 200 obras que concebeu ao longo de várias décadas, muitas das quais já não vê há dezenas de anos.  / JN

Júlio Resende, um dos grandes nomes da pintura contemporânea portuguesa tem a maior exposição da sua obra, até agora realizada. É uma mostra antológica, organizada pela Cordeiros Galeria, que inclui mais de 200 obras que abrangem todos os períodos do artista, desde a década de 50 até 2007.

Esta exposição, no edifício da Alfândega do Porto, foi inaugurada pelo Presidente da República.
Uma agradável surpresa que suscita grande curiosidade e simultaneamente implica grande responsabilidade. É assim que Júlio Resende - segundo confidenciou ao JN - encara a "mega-exposição".

O pintor (que recentemente expôs na Galeria JN) considera que é "na realidade muito agradável saber que me vou reencontrar com obras que já não são minhas e que, naturalmente, já não vejo há dezenas de anos. É sempre bom revê-las e ,quem sabe, até dialogar com elas de novo?- questiona, com alguma ironia. Admitindo que esta será a sua maior exposição até hoje realizada, Júlio Resende sublinha "que tanto quanto sei, poderá ser uma viagem (a maior) pormenorizada sobre o trabalho que fui desenvolvendo ao longo dos tempos".

Encara, por outro lado, que será "um momento de risco, pois expôr é sempre complicado ainda para mais, como parece ser o caso, quando são muitas obras. Afinal, é uma vida inteira em exposição e, portanto, não seria honesto se dissesse que o evento não me afectará. Claro que esta exposição mexe comigo, reconheço".

Apesar dos seus 90 anos, Júlio Resende continua a pintar diariamente. "Tanto pinto seis, sete horas seguidas como dez minutos, mas, de facto, tenho necessidade diária do acto de pintar, preciso de pintar", acrescentou. No entanto, admite a existência de uma "pequena contrariedade", a que designou o "peso da idade", que, logicamente, condiciona o seu trabalho.

"Não pinto tanto como desejaria, mas de acordo com as possibilidades. Todos os dias de manhã, logo que me levanto, pergunto à minha mão se me deixa pintar. Peço-lhe licença". E a resposta "é sempre a mesmaJúlio, tem cuidado, vai devagar..."

Assim feita a vontade, Resende continua a cumprir o seu ritual e pela manhã bem cedo, faça chuva ou sol, desce ao ateliê e não resiste à tela, aos pincéis e aos tubos de tinta "Eles estão ali, como que a chamar por mim..."

Justa homenagem

"Uma justa homenagem a um homem que dedicou e continua a dedicar a vida à pintura, à arte", justifica deste modo a realização da retrospectiva Agostinho Cordeiro, galerista de Júlio Resende há 12 anos e o principal promotor da retrospectiva na Âlfandega do Porto.

Nenhuma das obras que integrarão a mostra estará à venda e a grande maioria delas pertencem a colecções particulares e oficiais. "Estamos neste momento a concluir o trabalho e, até agora, tudo está correr bem e os coleccionadores foram muito receptivos", adiantou ao JN o mesmo galerista.

Sabe-se que nesta exposição estarão os trabalhos mais importantes do pintor e, de acordo com Agostinho Cordeiro, "houve o cuidado de conciliar a temática com a qualidade. Queremos mostrar o que de melhor existe na obra de Júlio Resende, sem, contudo, deixar de abranger a maioria das suas múltiplas fases".

Garantiu ainda que um dos objectivos desta iniciativa é proporcionar ao público uma "verdadeira viagem" ao universo do artista que hoje, diz Agostinho Cordeiro "já ultrapassou as fronteiras e muito tem dignificado as artes plásticas. Queremos, no fundo, transformar a retrospectiva numa grande homenagem ao mestre".

A retrospectiva no dia em que faz 90 anos

Júlio Resende nasceu no Porto, a 23 de Outubro de 1917. Em 1937 frequentou a Escola de Belas-Artes do Porto, tendo sido aluno de Dórdio Gomes e, em 1943, participa na organização do "Grupo dos Independentes" e nesse mesmo ano realiza a primeira exposição individual. Conclui o curso de pintura, na ESBAP, com o trabalho a que deu o nome "Fantoches". Entre 1947 e 48 estudou as técnicas de fresco e gravura na Escola de Belas-Artes de Paris. Um ano depois, regressa a Portugal e instala-se em Viana do Alentejo onde lecciona a disciplina de cerâmica. Em 1951 recebe o prémio especial na Bienal de S.Paulo. Realiza o painel "Ribeira Negra", no Porto e, em 1987, profere a última aula na ESBAP. Está representado em múltiplos museus e colecções oficiais, no país e no estrangeiro.

JN, 5/10/2007