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Estela funerária com uma das maiores inscrições da escrita tartéssica é um dos tesouros

Museu da Escrita do Sudoeste em Almodôvar

01 de outubro, 2007

Uma estela funerária com uma das maiores inscrições da escrita tartéssica é um dos tesouros do Museu da Escrita do Sudoeste em Almodôvar.  O museu - com registos únicos da mais antiga escrita da Península Ibérica - abriu as portas, no âmbito das Jornadas Europeias do Patromónio realizadas recentemente.

Instalado no edifício do antigo Cine-Teatro municipal, no centro histórico de Almodôvar, vai "expor alguns dos mais importantes achados arqueológicos epigrafados com caracteres da Escrita do Sudoeste", disse à Lusa Amílcar Guerra, arqueólogo e coordenador científico do projecto.

São sobretudo estelas funerárias - colunas tumulares em pedra de xisto - nas quais os antigos faziam inscrições e eram colocadas ao alto nas sepulturas.

Segundo o responsável, a instalação do museu em Almodôvar justifica-se plenamente, porque o concelho é uma das áreas da Península Ibérica com uma das maiores e das mais importantes concentrações deste tipo de registos.

Ainda sem data marcada para a abertura definitiva ao público, o Museu da Escrita do Sudoeste inicia-se com cerca de 20 peças, entre elas um espólio permanente de 16 estelas descobertas no núcleo arqueológico de Almodôvar.

Este conjunto "deverá ser variado com a exposição de outras estelas descobertas fora do núcleo de Almodôvar, que são também muito interessantes e diversificadas", acrescentou Amílcar Guerra.

Almodôvar guarda
estrela funerária pouco comum


As estelas epigrafadas com escrita tartéssica do concelho de Almodôvar fazem parte das 75 estelas descobertas em território português e de um total de 90 conhecidas na Península Ibérica.

Amílcar Guerra destaca a Estela de São Martinho, achada no sítio arqueológico de São Marcos da Serra, no concelho algarvio de Silves. "É uma estela notável, não apenas pelas suas dimensões, mas especialmente pela extensão do seu texto, com cerca de 60 signos identificados, o que permite considerá-la uma das inscrições mais extensas de escrita tartéssica", sublinhou.

Em termos científicos, o arqueólogo destaca ainda a Estela da Abóbada, achada no sítio arqueológico de Gomes Aires, em Almodôvar. "É uma estela particularmente interessante e fora do comum por ser uma das poucas com figuras", acrescentou, frisando tratar-se de "um exemplo ilustrativo do interesse da escrita tartéssica".

A Escrita do Sudoeste ou Tartéssica, da I Idade do Ferro no Sul de Espanha e Portugal, foi desenvolvida pelos Tartessos, nome pelo qual os gregos conheciam a primeira civilização do Ocidente, que se terá desenvolvido nas zonas das actuais regiões da Andaluzia espanhola e Baixo Alentejo e Algarve.

A escrita dos Tartessos, que tiveram influências culturais de Egípcios e Fenícios, explicou Amílcar Guerra, "é distinta das dos povos vizinhos, complexa e permanece indecifrável até à actualidade".

Lusa