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JN, 26/10/2006

Casa da Música equaciona extinção do Estúdio de Ópera

15 de novembro, 2006

O Estúdio de Ópera, um dos agrupamentos residentes da Casa da Música (CM), no Porto, tem o último recital agendado para Dezembro. Ao fim de quase dois anos de incertezas sobre o funcionamento da estrutura, criada em 1999, a Administração da CM está a equacionar o seu fecho. Cantores e pianistas foram informados da decisão há três meses.

O Ministério da Cultura e a direcção artística da Casa da Música não comentam o assunto. No entanto, ainda anteontem, por ocasião da apresentação do festival Novas Músicas, Pedro Burmester garantiu que "brevemente" haveria novidades.

O JN apurou que os elementos do Estúdio de Ópera sabem do desfecho desde Julho, quando houve uma reunião entre Burmester, António Jorge Pacheco, programador, e Andrew Bennett, actual responsável pela Orquestra Nacional do Porto.

Segundo um dos cantores do agrupamento, nessa reunião "foi dito que o Estúdio de Ópera, como parte integrante da Casa da Música, ia acabar", passando a haver "projectos pontuais". Neste sentido, seria intenção da CM criar um coro e programar alguns concertos. "Coisas muito insignificantes relativamente ao trabalho que nós desenvolvemos no Estúdio", referiu.



Couto dos Santos polémico

As incertezas em torno da estrutura começaram em Janeiro de 2005, quando Couto dos Santos, então presidente do Conselho de Administração da CM, encomendou um estudo com o objectivo de avaliar as potencialidades do Estúdio de Ópera. Na altura, disse mesmo que "o sistema de co-produções é hoje mais usado", acrescentando que "a ópera é muito cara".

O referido estudo "foi feito e apresentado. Analisava outros estúdios, nomeadamente nos Estados Unidos, e apresentava uma possível solução", adiantou a mesma fonte.

Ainda de acordo com aquele elemento do agrupamento, depois disso Peter Harrison, director de estudos vocais e responsável pelas aulas de canto, apresentou uma proposta com alterações ao funcionamento "e nada foi feito".



Exemplo único no Norte

Tirando os coros profissionais do Teatro S. Carlos e da Gulbenkian, em Lisboa, o Estúdio de Ópera "é o único sítio em Portugal onde existem cantores residentes", recorda. A estrutura foi criada por ocasião da Porto/Capital da Cultura e, enquanto a Casa da Música não abriu, o que só aconteceu em Abril do ano passado, residiu na Casa das Artes.

A mesma fonte lembra que o agrupamento "foi criado para colmatar o vazio que existe entre o mundo escolar e o mundo profissional, visto que as escolas não dão o treino suficiente para se entrar no mundo profissional, que no nosso país já é pequeno". E acrescenta que cada um dos sete cantores do Estúdio de Ópera ganha 480 euros líquidos por mês. As aulas diárias de canto demoram cerca de meia hora, mas a preparação dos espectáculos leva muito mais tempo.

Mesmo assim, é sua opinião que o anunciado fecho "não se deve a questões económicas. É uma questão de política da Casa da Música, que entende que este trabalho deve ser feito nas escolas e que, a existir um estúdio de ópera, deveria estar agregado ao S. Carlos, que é o único teatro de ópera em Portugal".

Segundo fonte oficial da CM, a programação do Estúdio de Ópera entre Janeiro e Dezembro deste ano conta um total de 20 espectáculos e 'workshops'. "Bastien und Bastienne", de Mozart, ópera incluída no formato dos recitais, "Ottone", de Händel, também interpretada em Faro, e "Joaz", de Benedetto Marcello (no parque de estacionamento), são algumas das produções que o Estúdio apresentou na Casa da Música.

JN, 26/10/2006