Nacional

Silêncios de Cavaco são “inadmissíveis”, diz Arménio Carlos

19 de outubro, 2013

A chuva forte que começou a cair minutos antes de o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, discursar obrigou alguns manifestantes a saírem do corredor central da concentração em Alcântara e a procurarem abrigos nos beirais dos edifícios, paragens de autocarros e entradas de armazéns. Uns aguardavam à chuva, outros protegidos de chapéu aberto ou mesmo debaixo das lonas do protesto.

A chegada à concentração em Alcântara, depois da “marcha sobre rodas” na Ponte 25 de Abril, em Lisboa, fez-se a pé pelas várias ruas que desembocam no corredor da rua João de Oliveira de Miguens até à Avenida 24 de Julho.

“Cavaco, é tua obrigação aceitar a demissão”, gritava-se no palco e entre a multidão que ia chegando e assistia virada para a ponte. Depois, foi Arménio Carlos, já a discursar, quem se dirigiu ao Presidente da República e ao Governo. De Cavaco Silva e do executivo, disse, são “inadmissíveis os silêncios” sobre aquilo que considerou serem as “chantagens” de Durão Barroso e da “senhora Lagarde” sobre o Tribunal Constitucional.

Fez um discurso voltado para a unidade dos trabalhadores. Para “juntar forças e vontades”, para juntar “posições”, para desenvolver “propostas comuns”, diria aos jornalistas pouco depois de discursar. No palco, deixou um apelo concreto: para a manhã de 1 de Novembro anunciou uma concentração junto à Assembleia da República onde nesse dia é votado na generalidade o Orçamento do Estado (OE) para 2014.

A data não foi escolhida ao caso. É uma acção contra o orçamento: para rejeitar a proposta do Governo, pedir a demissão do executivo e exigir eleições antecipadas. Mas é também uma acção numa data simbólica, contra a abolição do feriado do 1 de Novembro, que Arménio Carlos considerou ser um “roubo” dos trabalhadores.

“Este é o tempo que exige a participação de todos”, disse, apelando à participação de trabalhadores com vínculos efectivos e precários, funcionários públicos, reformados e desempregados e jovens.

CGTP não descarta greve geral
Antes, aconteceu a “marcha sobre rodas” da CGTP, com centenas de autocarros e carros numa fila compacta e marcha lenta e debaixo de um persistente buzinão. Foi uma das duas marchas que a Intersindical convocou para este sábado em Lisboa e Porto, duas acções de protesto que o secretário-geral da Intersindical, Arménio Carlos, esperava ver “com muita força, com muita dinâmica, com muita consciência”.

Os primeiros autocarros que saíram dos vários concelhos do distrito de Setúbal em direcção a Alcântara fizeram a travessia da ponte 25 de Abril com normalidade. Os veículos circulavam com a distância de segurança recomendada pelo Código da Estrada e, tal como a CGTP prometera, sem qualquer indício de bloqueio da ponte. O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, que também fez a travessia num dos autocarros, dizia pelas 14h30 que o protesto estava a decorrer de forma "serena" mas com "muita azáfama".

A saída do líder da Intersindical fez-se do Marquês de Pombal, ponto de partida habitual de tantas outras manifestações na capital. E, ainda antes de arrancar num dos quatro autocarros ali concentrados para seguirem para a 25 de Abril, Arménio Carlos dizia ao que vinha: “Não estamos aqui apenas e só para contestar, estamos aqui também para mostrar que há caminhos alternativos que podem resolver os problemas do país e do povo”.

Questionado pelo PÚBLICO sobre o apoio que o secretário-geral da UGT deu ontem à acção de protesto deste sábado, relativizou as declarações de Carlos Silva e disse que o que está em causa na jornada da CGTP “é a defesa dos trabalhadores e da população portuguesa, independentemente do posicionamento político-sindical [de quem participa]”.

E mais do que diferenças, reforçou, é preciso unir esforços. Sem se querer adiantar sobre próximas acções de protesto, quando foi questionado sobre a possibilidade de convergência com a UGT para realizar uma nova greve geral, respondeu: “Uma coisa de cada vez”. E acrescentou: “Queremos construir unidade na acção e unidade na acção não se constrói [só] na unidade das cúpulas, das centrais, constrói-se na unidade dos trabalhadores. É por causa disso que vamos ter uma série de acções de luta muito significativas nas próximas semanas”.

30 mil desfilam no Porto
No Porto, onde a manifestação começou por volta das 15h20, a União de Sindicatos do Porto fala em perto de 30 mil pessoas mobilizadas para a travessia a pé da ponte do Infante. Mais de 100 autocarros chegaram nas últimas horas à cidade, avançou ao PÚBLICO João Torres, coordenador da estrutura sindical.

“São mais de 100 autocarros com trabalhadores dos distritos de Aveiro, Braga, Bragança e Vila Real. Aqui não há problemas de segurança”, disse. O líder sindical explicou ainda que o objectivo da manifestação “é a exigência nas ruas da demissão do Governo e da realização de eleições antecipadas”.

“O Governo não tem legitimidade para continuar o assalto aos bolsos dos cidadãos. Esperamos que o Tribunal Constitucional cumpra o seu papel”.

Pelas 16h15 o desfile estava a chegar à avenida dos Aliados, mas ainda há pessoas a passar a ponte do Infante, onde se iniciou a marcha. O desfile tem mais de dois quilómetros de extensão. /Público, 19/10/2013