Nacional
10 000 postais contra o actual modelo de gestão

Delegação da FENPROF recebida na residência oficial do Primeiro Ministro

18 de junho, 2009
Uma delegação da FENPROF, dirigida pelo seu Secretário Geral, Mário Nogueira, foi recebida no gabinete do Primeiro Ministro, na residência oficial de S. Bento, em Lisboa.

A audiência, pedida pela FENPROF, surge na sequência da acção de protesto que a Federação ali realizou esta manhã, e que incluiu a recolha e entrega de milhares de postais dirigidos ao Primeiro Ministro, contra o actual modelo de gestão das escolas. Esses postais foram depositados num marco de correio especial, onde se reivindicava "Democracia na Gestão das Escolas".

Além de Mário Nogueira, integraram a delegação recebida por um  elemento do gabinete do PM: António Avelãs (SPGL), Manuela Mendonça (SPN), Francisco Almeida (SPRC) e Rui Sousa (SPZS), membros do Secretariado Nacional da FENPROF.

"Os professores e educadores são contra o actual modelo de gestão imposto pelo M.E. às escolas e agrupamentos. Esse modelo, para além de diminuir a importância dos seus órgãos pedagógicos, subordina o interesse pedagógico aos desígnios político e administrativo, reduz a participação dos docentes em instâncias - e uma escola que não é democrática não pode educar para a democracia!", sublinha uma nota divulgada pelo Secretariado Nacional da FENPROF a propósito desta iniciativa, que juntou algumas dezenas de dirigentes e delegados sindicais.

Etapas de uma forte luta
contra o modelo do ME

Recorde-se que no combate ao modelo de gestão imposto pelo ME, a FENPROF já apresentou uma Petição à Assembleia da República, requereu às entidades competentes a declaração de ilegalidade, bem como a fiscalização da constitucionalidade (em ambos os casos, fundamentando as suas posições em parecer elaborado por um ilustre Juiz Jubilado do Tribunal Constitucional), promoveu e entregou no ME um abaixo-assinado de protesto dos professores e apoia diversos processos em Tribunal interpostos por professores de várias escolas.

Foi, ainda, com o objectivo de combater este modelo de gestão que a FENPROF recolheu nas escolas os milhares de postais dirigidos ao Primeiro-Ministro que agora foram entregues.

Breves intervenções de Mário Nogueira
e de Manuela Mendonça


Na acção realizada na manhã desta quinta-feira, 18 de Junho, em São Bento registaram-se breves intervenções de Mário Nogueira e de Manuela Mendonça.

O Secretário Geral da FENPROF sublinhou a dado passo que se o Primeiro Ministro julga que a avaliação do desempenho é a única matéria que merece a contestação dos professores portugueses, desengane-se, pois os motivos de queixa não ficam por aí, lembrando matérias como, por exemplo, a gestão das escolas, os horários de trabalho, o ingresso na profissão, os concursos...

A Coordenadora da Direcção do SPN alertou para o clima de instabilidade que se vive hoje nas escolas devido ao modelo autoritário que o Ministério da Educação quer impor, criando conflitos num momento em que os professores deveriam estar concentrados nas sensíveis tarefas de final de ano lectivo.

Gestão: o retrocesso imposto pelo ME

O Livro Negro das Políticas Educativas deste Governo, lançado a 17 de Junho pela FENPROF, chama a atenção para cinco aspectos que marcam o retrocesso imposto pelo ME nesta matéria:

1. A imposição a todas as escolas de um órgão de gestão unipessoal, acabando com toda a tradição de colegialidade pós-1974, bem como com a possibilidade, existente desde 1998, de a Assembleia de cada escola optar por um órgão de gestão unipessoal ou colegial.

2. A concentração de poderes no Director -  último elo da cadeia hierárquica do Ministério da Educação em cada escola. Fica assim estabelecida uma rígida cadeia de comando que começa nos serviços do ME e acaba nos responsáveis pelas estruturas de coordenação e supervisão pedagógica, que deixam de ser eleitos pelos professores e passam a ser designados pelo Director.

3. A desvalorização do Conselho Pedagógico, remetido para um papel essencialmente consultivo. A designação da maioria dos seus membros pelo Director terá consequências na configuração monolítica desse órgão, onde deixarão de se confrontar, de forma positiva e saudavelmente democrática, opiniões, sensibilidades e pontos de vista diversos sobre a vida da escola e os seus projectos pedagógicos. Para além disso, a menorização do Conselho Pedagógico contraria o princípio do primado do pedagógico e científico sobre o administrativo, consagrado na Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE).

4. O fim do processo de eleição directa do órgão de gestão da escola por um colégio eleitoral alargado (constituído por professores, pessoal não docente, pais e encarregados de educação e alunos do ensino secundário) e a sua substituição por um "procedimento concursal", seguido de eleição pelo Conselho Geral (que terá um máximo de vinte e um elementos). Esta solução é "ressuscitada" do modelo experimental de gestão instituído pelo DL 172/91, representando uma opção tanto mais estranha quanto foi objecto de uma apreciação negativa por parte do Conselho de Acompanhamento e Avaliação então criado para o efeito pelo próprio ME.

5. A redução da participação e da influência dos docentes na direcção e gestão das escolas, retirando-lhes a possibilidade de eleger os seus representantes no Conselho Pedagógico e garantindo que estarão sempre em minoria no Conselho Geral. As alterações propostas a este nível visam fundamentalmente, retirar espaços de intervenção aos docentes e, representam mais uma desautorização pública do trabalho e do papel dos professores e educadores.