Nacional
Mais de 90 por cento dos professores estiveram em greve, naquela que é já considerada a afirmação de luta mais poderosa na história da classe docente em Portugal!

Uma Greve histórica!

02 de dezembro, 2008

As manobras do Ministério da Educação, à última da hora, não conseguiram confundir, desmotivar ou desmobilizar a participação na greve nacional dos professores e educadores, que decorreu, em todo o País, num clima de grande responsabilidade cívica e também de unidade, firmeza e determinação. O resultado foi  uma greve histórica da classe docente. Mais de 90 por cento destes profissionais paralisaram em todas as regiões e em todas as escolas do ensino não superior. Tivemos concelhos inteiros em que todas as escolas fecharam. Em várias localidades, a greve foi acompanhada de concentrações de educadores e professores.
Uma tremenda resposta à intransigência negocial do Ministério da Educação e do Governo, designadamente em torno da avaliação do desempenho e da revisão do ECD. Os docentes exigem um rumo diferente para as políticas educativas.
As primeiras reacções do ME, através do Secretário de Estado Jorge Pedreira, foram caricatas: o Ministério "só daqui a uma semana é que tem números da greve", há muitas escolas "abertas", o Governo "não abdica" do "essencial" do seu modelo de avaliação, etc

A meio da manhã, dirigentes da Plataforma Sindical, incluindo Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, confirmavam aqueles números, numa improvisada conferência de imprensa realizada à porta da Escola EB 2.3 Marquesa de Alorna, no Bairro Azul, em Lisboa, onde a greve mobilizou também a esmagadora maioria dos seus docentes. Momentes antes, os dirigentes sindicais tinham passado pela Secundária Gil Vicente, encerrada devido à paralisação dos professores.

Sindicatos preparados para tudo:
para a negociação e para a luta


Sublinhando o enorme êxito desta greve nacional, o porta-voz da Plataforma garantiu, nas respostas às questões colocadas pelos profissionais da comunicação social, que os Sindicatos estão hoje, como sempre estiveram, preparados para a negociação séria e objectiva com o ME. Mas também estão preparados, naturalmente, e se o ME persistir na sua insensibilidade política, para dar sequência às decisões tomadas pelo 120 000 docentes que se manifestaram em Lisboa no dia 8 de Novembro, recordando, a propósito, a vigília que está prevista para os dias 4 e 5 à porta do ME, na Av. 5 de Outubro, para além de outras greves em Dezembro e em 19 de Janeiro.

Depois desta greve, a Plataforma Sindical dos Professores considera estarem criadas as condições indispensáveis para que, num quadro absolutamente claro sobre a determinação dos professores e as suas posições, as negociações avancem, tendo como ponto de partida a suspensão do actual modelo de avaliação.

Se o Governo não compreender isto e se mantiver, obsessivamente, na disposição de levar, até às últimas consequências, um braço de ferro com os professores e educadores portugueses, estará a optar, irresponsavelmente, por uma via que porá em causa o normal desenvolvimento do ano lectivo.

Mais professores envolvidos

"Se já de si foram históricas as manifestações de Março e Novembro, hoje temos ainda mais educadores e professores a contestatarem as políticas do ME, a dizerm que não querem ser divididos em professores e em titulares, a dizerem que não querem este modelo de avaliação burocrático, que para se poder aplicar tem que se andar constantemente a remendar e a adaptar", observou Mário Nogueira.

Segundo notícia divulgada ao princípio da tarde, o Ministério da Educação (ME) admitiu a possibilidade de aplicar o modelo simplificado de avaliação de desempenho não apenas neste ano lectivo, como tinha anunciado, mas também nos próximos, desde que os sindicatos aceitem "negociar"...

Objectivos fundamentais

Como objectivo imediato da luta dos professores coloca-se a suspensão do actual modelo de avaliação, a negociação de uma solução transitória de avaliação para o ano em curso e a negociação de um novo modelo para o futuro no quadro da revisão do Estatuto da Carreira Docente de onde sejam expurgados, entre outros aspectos, as quotas de avaliação e a divisão da carreira docente. Estes são os objectivos da Plataforma Sindical dos Professores em que a FENPROF se revê e empenha. Estes são, também, os objectivos da luta dos professores, uma luta que conheceu no dia 3 de Dezembro de 2008 um momento particularmente expressivo. / JPO