Nacional

Do V Congresso da IE para todo o Mundo: uma mensagem clara pela Educação

11 de agosto, 2007

Envolvido por um expressivo apelo aos Governos de todos os países para que se empenhem efectivamente na construção e consolidação de um ensino de qualidade para todos, teve lugar em Berlim (de 22 a 26 de Julho de 2007) o V Congresso da Internacional de Educação (IE), que reuniu mais de 1700 participantes, oriundos de todos os continentes. Fundada em 26 de Janeiro de 1993, em Estocolmo, a IE representa hoje cerca de 30 milhões de educadores, professores e outros trabalhadores do ensino, educação e formação de todo o Mundo, filiados em 384 organizações de 160 países.

A Federação Nacional dos Professores (FENPROF) participou neste grande encontro de Berlim com quatro delegados: Mário Nogueira, secretário-geral; António Avelãs, presidente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL); Abel Macedo, coordenador do Sindicato dos Professores do Norte (SPN); e Paulo Sucena, antigo secretário-geral da Federação. Ana Gaspar acompanhou os trabalhos como observadora, na qualidade de representante da FENPROF na Comissão Executiva do Comité Sindical Europeu de Educação (CSEE).

"Educadores -  juntos por uma educação de qualidade e pela justiça social" é o lema que presidiu aos trabalhos deste V Congresso, notícia saliente em Berlim durante vários dias. Embora os trabalhos tenham arrancado a 22 (domingo), a verdade é que a assembleia magna da IE começou a "mexer", em termos de iniciativas, a partir  do dia 19, com a creditação de alguns dos participantes (especialmente alemães) e a realização de encontros específicos e de assembleias temáticas, como as que foram dedicadas à situação das Mulheres (21/7) e ao Ensino Superior e Investigação (20/7). Nesta foram apontadas medidas para "melhorar a colaboração" entre as organizações filiadas na IE e entidades como a OIT (Organização Internacional do Trabalho) e a UNESCO, agência das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura.

O primeiro dia dos trabalhos, que incluiu uma saudação do Presidente da República Federal da Alemanha, Horst Köhler, que destacou a importância social da profissão docente, foi marcado pelas intervenções de um conjunto de dirigentes da IE e de organizações sindicais de docentes do país anfitrião, como o GEW - Sindicato da Educação e Ciência, que se fez representar no nono Congresso da FENPROF, em Abril; a VBE, Federação de Educadores Alemães; e a BLBS, Associação Federal de Professores das Escolas de Formação Profissional. Dirigentes de entidades internacionais e o presidente do Conselho de Ministros da Educação da Alemanha também se dirigiram aos congressistas na primeira sessão plenária, que ouviu ainda a mensagem enviada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

O papel da unidade

Intervindo no primeiro dia do Congresso, que decorreu no Centro de Convenções "Estrel", a cerca de 10 minutos do centro da cidade, o Presidente da IE, Thulas Nxesi, recordou que "a educação é um direito humano" e chamou a atenção para a importância estratégica da unidade dos docentes, afirmando a dado passo que a unidade criada a nível internacional - bem visível neste Congresso de Berlim -, deve ser desenvolvida em cada país, fortalecendo, assim, a capacidade de intervenção dos educadores e professores de todos os sectores de ensino, na exigência de verdadeiras politicas de desenvolvimento e progresso.

Thulas Nxesi sublinhou ainda que "não bastam resoluções bem elaboradas e boas intenções" para a efectiva construção de uma educação de qualidade para todos - "precisamos de ver resultados concretos". O presidente da IE, a quem coube também a intervenção de encerramento (26/7), realçou ainda o papel de vanguarda dos docentes de todo o Mundo na construção de uma verdadeira justiça social, um tema que esteve em foco nas intervenções, nos depoimentos prestados aos jornalistas no centro de imprensa e na diversificada documentação deste Congresso.

44 painéis temáticos

Para se ter uma ideia da riqueza da discussão que decorreu em Berlim, especialmente lançada a partir da apresentação do relatório de actividades 2004-2007 pelo secretário-geral da IE, Fred van Leeuwen, refira-se que os trabalhos incluíram 44 painéis temáticos, organizados sob a forma de seminários, mesas-redondas e "oficinas", proporcionando debates como o papel dos sindicatos no século XXI, a importância da educação pré-escolar como primeira etapa da educação básica, os fenómenos da emigração e da "fuga de cérebros", a violação aos direitos humanos e sindicais (uma triste realidade em vários países, caso da Colômbia, onde "ser professor e sindicalista significa correr muitos riscos, incluindo a liberdade e a vida").

A educação para a paz e a coesão social, a análise crítica às políticas de investigação da OCDE e da UNESCO, o projecto Educaçãoo para Todos e o papel dos sindicatos; a utilização da Internet e das novas tecnologias de informação e comunicação para "melhorar o trabalho sindical"; ou a formação em educação sobre SIDA, foram outros dos painéis temáticos, em destaque no segundo dia do Congresso da IE, que se realiza de três em três anos, tendo a quarta edição decorrido no Brasil, em 2004. A partir de agora, a assembleia magna da Internacional de Educacão passará a realizar-se de quatro em quatro anos, prevendo-se a realização de encontros regionais e temáticos nesse intervalo de tempo.

Segundo vários dirigentes da IE contactados pelos jornalistas, "embora se deseje avançar mais em várias áreas, há sinais positivos no balanço destes três anos de actividade da IE", assunto que mereceu particular atenção nas intervenções finais.

Na noite de 25 de Julho decorreu a cerimónia de entrega de dois prestigiados Prémios atribuídos pela IE - o Albert Skanker, de Educação, que desta vez distinguiu Ernestina Akakpo-Gbofu, educadora, sindicalista, criadora de jogos educativos e escritora do Togo; e o Mary Hatwood Futrell, de Directos Humanos e Sindicais, que foi atribuído a dois docentes da Colômbia vítimas de repressão brutal: Raquel Castro, dirigente da Associação de Educadores de Arauca, e Samuel Morales, ex-professor de uma escola de meio rural e presidente da Central Unitária dos Trabalhadores da referida localidade colombiana. Ambos foram detidos numa operação militar do exército em 5 de Agosto de 2004. / JPO