Nacional
FENPROF: conferência de imprensa em 13 de Julho

Pela negociação efectiva, em defesa dos Sindicatos, pilares da democracia

18 de julho, 2007

"A maior de todas as farsas negociais", foi assim que Mário Nogueira se referiu ao lançamento, pelo ME, de sete  (7) projectos de diplomas regulamentadores do ECD, tendo a FENPROF sido convocada apenas para duas (2) reuniões a realizar nos dias 19 e 26 de Julho... O secretário-geral da Federação Nacional dos Professores falava na conferência de imprensa que decorreu ao fim da manhã de 13 de Julho, em Lisboa. O encontro com os jornalistas serviu patra divulgar as conclusões da reunião do Secretariado Nacional da FENPROF, efectuada nos dias 11, 12 e 13. Publicamos aqui a versão integral do documento com os traços fundamentais da análise e das decisões tomadas pela Direcção da FENPROF. Presentes também na Mesa da conferência de imprensa António Avelãs, presidente do SPGL; Abel Macedo, coordenador do SPN; Anabela Sotaia, coordenadora adjunta do SPRC; Joaquim Páscoa, presidente do SPZS; e Marília Azevedo, coordenadora do SPM.

É do conhecimento público que se vive, na Educação, um período extremamente difícil e de grande complexidade. Fruto do insucesso de sucessivas mudanças e "reformas"do sistema educativo, à margem das escolas e desvalorizando, quase sempre, os saberes profissionais dos docentes.

Este é, pois, um período difícil e complexo porque a crise é profunda e estrutural e as medidas para a superar são, na sua esmagadora maioria, apenas de faz-de-conta, não escapando a deprimentes relatórios nacionais e internacionais, cujos resultados são, eles mesmos, fruto dessas políticas.

Difícil e complexo porque a demagogia dos responsáveis ministeriais é inesgotável. Exemplos dela são as declarações relativamente ao êxito da implementação das Actividades de Enriquecimento Curricular no 1.º ciclo do ensino básico ou as que pretendiam ilustrar o entusiasmo dos professores pelo concurso de acesso a titular, com base no número de candidaturas registadas.

Difícil e complexo porque a política do Governo se orienta para a desvalorização e desmantelamento dos serviços públicos - encerrando uns e degradando as condições de funcionamento de outros - e para a redução ou liquidação de direitos laborais relevantes para os trabalhadores.

Difícil e complexo porque o ME e o Governo desrespeitam leis, não têm em conta critérios de justiça e equidade nas medidas que adoptam, desvalorizam e desrespeitam a negociação e as regras legais por que esta se rege, atentam contra os direitos sindicais e adoptam uma atitude persecutória dos Sindicatos e dos seus dirigentes.

O ano escolar apresenta, neste final, um maior número de problemas, mais difíceis de resolver, do que os que existiam no início. O necessário balanço do ano e a fundamentação desta apreciação da FENPROF terão lugar em Conferência de Imprensa que promoveremos no Porto, no dia 1 de Agosto. Queremos, já agora, saber como vai terminar o mês de Julho e com que arrogância o ME irá impor mais um conjunto de quadros legais sobre a carreira docente, sem qualquer negociação efectiva. Importa também conhecer, em toda a extensão, até onde irá o atentado que está a ser preparado contra os direitos sindicais, os Sindicatos de Professores e os seus dirigentes.

O que afirmámos antes corresponde às razões por que a FENPROF convocou esta Conferência de Imprensa. Por um lado, verificamos a intenção do ME de regulamentar, unilateralmente, um elevado número de matérias relevantes do ECD. Por outro, evidencia-se a tentativa de aniquilar os Sindicatos representativos dos trabalhadores da Administração Pública, com prioridade para os Sindicatos de Professores.

Sobre a regulamentação do ECD, o ME enviou, no dia 10 à tarde, sete (7) projectos de diplomas regulamentadores do ECD (Avaliação do Desempenho, Concurso de Acesso a Professor Titular, Prova de Ingresso na Profissão, Dispensas para Formação, Aquisição dos Graus Académicos de Mestre e Doutor, Licença Sabática e Funções Técnico-Pedagógicas) e convocou a FENPROF para duas (2) reuniões a realizar, respectivamente, na manhã e na tarde dos dias 19 e 26 de Julho. Parece, então, que o ME pretende reservar 2 reuniões (7 a 8 horas de trabalho efectivo) para negociar com os Sindicatos 7 diplomas legais. Isto significa que, em média, cada matéria poderá merecer, apenas, uma hora de negociação, o que é de todo inaceitável! Isto, depois de, durante meio ano, o ME se ter limitado a regulamentar (e da pior forma!) o primeiro concurso de acesso à categoria de professor titular. Ou seja, durante meio ano foi o silêncio, agora, em plenas férias dos docentes, na segunda quinzena de Julho, o ME quer regulamentar sete matérias de elevadíssima importância.

Não é aceitável que o ME pretenda que estas sejam as duas únicas reuniões de um processo que deveria continuar em Setembro! Por isto, na reunião do dia 19 de Julho, a FENPROF apresentará uma proposta com vista ao estabelecimento de um calendário negocial que ordene prioridades das matérias a negociar.

Se não for esta a intenção do ME, se forem confirmadas as piores expectativas, se constatarmos que estamos perante a maior de todas as farsas negociais de quantas o ME já montou, então, no dia 19, sairemos da reunião e na própria 5 de Outubro denunciaremos a gravíssima atitude anti-negocial e antidemocrática dos responsáveis ministeriais. Nesse caso, ainda, não compareceremos na reunião que o ME convocou para dia 26 e à hora em que aquela deveria decorrer (15.00 horas) será construído, junto às instalações do Ministério da Educação, o Muro da Imposição, da Prepotência e da Arrogância do ME que, simbolicamente, derrubaremos. Desta forma, anteciparemos o que os professores e educadores portugueses, em particular, e os trabalhadores, em geral, saberão fazer. Apesar da prepotência e da arrogância com que têm de lidar, os docentes manter-se-ão firmes na defesa das suas posições. A partir do início de Setembro, continuarão a intensa acção e luta em defesa da Escola Pública, Democrática e de Qualidade e em defesa dos seus direitos profissionais, o que passa por tudo fazer para revogar o ECD que o ME lhes impôs. Exigirão, do Governo e do Ministério da Educação, respeito pela negociação e pelos seus Sindicatos.

É neste quadro que a FENPROF considera, mais uma vez, fundamental a realização de uma reunião com a presença da Senhora Ministra da Educação, a qual vem sendo negada há mais de ano meio, numa atitude de profundo desrespeito pelos Sindicatos de Professores e de incapacidade de diálogo. Caso não seja marcada, a Federação recorrerá ao Senhor Primeiro-Ministro para que garanta a realização da reunião pretendida e indispensável.

A outra questão que pretendemos destacar relaciona-se com os direitos sindicais.

O Governo pretendeu precipitar a aprovação de uma Lei, na Assembleia da República, que penaliza as direcções sindicais, levando a uma brutal redução do número de dirigentes com direito a 4 dias de crédito remunerado mensal para o exercício da actividade sindical. A Proposta de Lei do Governo foi construída para penalizar, de forma acrescida, as maiores e mais representativas organizações.

O Governo pretende que o Parlamento altere um artigo e revogue outro da designada "lei sindical" (Decreto-Lei n.º 84/99, de 19 de Março). Quis que a Assembleia da República o fizesse de imediato para que pudesse aplicar-se, já em Setembro, aos professores. Não negociou a proposta com os Sindicatos e pretendeu que a Assembleia da República realizasse, apenas, um simulacro de negociação.

Todavia, a Assembleia da República decidiu, e bem, no cumprimento da lei, adiar a votação global de 11 para 18 de Julho, bem como a discussão de especialidade e votação final global para a próxima sessão legislativa. Se haverá ou não negociação, logo veremos! Independentemente disso, o conteúdo da Proposta de Lei que o Governo aprovou deverá ser profundamente alterado. É neste quadro, de inusitada subversão dos direitos sindicais, que a FENPROF apela a todos os deputados que reprovem aquela Proposta, para que nunca venha a ser transformada em Lei. Apelamos com particular veemência aos deputados do Partido Socialista para que assumam os valores democráticos como dos mais elevados e para que não atentem contra os Sindicatos, pois estes são um dos pilares fundamentais das sociedades democráticas.

Hoje à tarde, sexta-feira, dia 13, nas instalações do CNE, realiza-se uma reunião convocada pelo ME, que reunirá todos os Sindicatos de Professores, sobre os créditos de que as direcções sindicais disporão para o exercício da sua actividade no próximo ano lectivo. Desconhecemos o que pretende o ME, mas lembramos que houve reduções há dois anos e no ano passado e que, provavelmente, pretende ganhar na secretaria o que, para já, perdeu no jogo democrático: a redução, ao mínimo, do número de dirigentes com direito a créditos sindicais. Concordámos com a moralização da situação que existia ? recordamos que há dois anos, dos cerca de 1500 docentes com dispensa de serviço para a actividade sindical, a FENPROF tinha apenas cerca de 10% do total! Agora, no entanto, não se trata de moralizar e tudo indica tratar-se de atacar, de tentar liquidar, de criar grandes dificuldades em relação à capacidade de os Sindicatos se organizarem, de trabalharem com os seus associados nos locais de trabalho e de os mobilizar para as acções e as lutas que se tornem necessárias.

Se isso acontecer, no Congresso da Internacional de Educação, que se realizará em Berlim, entre os próximos dias 22 e 26 de Julho, com a presença de cerca de 2000 delegados de todo o mundo, em representação das organizações sindicais de trabalhadores da Educação, docentes e não docentes, a FENPROF assumirá a denúncia desta situação, como de outras, muito negativas, que têm marcado a acção dos que tutelam a Educação e, de forma sistemática e continuada, vilipendiam as regras da Democracia.

Fica uma certeza: não conseguirão acabar com os Sindicatos, façam o que fizerem e aconteça o que acontecer. Em condições mais difíceis, na longa noite fascista, outros resistiram e souberam dizer Não! Este Governo não conseguirá calar ou abater os Sindicatos.

Lisboa, 13 de Julho de 2007
O Secretariado Nacional da FENPROF