Política Educativa Nacional
A PROPÓSITO DOS EXAMES DO SECUNDÁRIO

Os resultados dos exames não podem ser tratados de forma ligeira

14 de julho, 2015

Mais do que analisar este ou aquele resultado, esta ou aquela variação, desta ou daquela disciplina, importante é refletir sobre as causas, as práticas e os efeitos da avaliação dos alunos do ensino básico e secundário.

As notas dos exames de Matemática do Secundário subiram quase três valores. Há muito que não se via tal, pois a última vez em que acontecera com tamanha relevância (subida de 3,4 valores) foi em 2008. Então, PSD e CDS insinuaram que o nível das provas tinha baixado, daí a melhoria dos resultados, sendo também nesse sentido a opinião da Sociedade Portuguesa de Matemática. Por não termos a memória curta, há que verificar se o mesmo aconteceu este ano e qual a razão/intenção se assim tiver sido!

A FENPROF considera positivo que as médias dos alunos no exame de Matemática tenham melhorado. Porém, tem como muito preocupante o facto de, ao contrário, se ter registado uma descida acentuada, para valores negativos, na média da disciplina de Biologia e Geologia 

Considerando que as alterações aos critérios de correção que chegaram aos professores corretores, já no período em que desenvolviam a tarefa, terá ocorrido em todas as disciplinas, alterações que, como foi notório, se destinavam a melhorar os resultados dos alunos, não deixa, contudo, de ser estranho que o ministro Nuno Crato manifeste preocupação pelos resultados positivos na disciplina de matemática e não lhe ocorra questionar o que se passou, por exemplo, num mesmo contexto, com o exame de Biologia e Geologia em que as médias baixaram para negativa. 

As suspeitas levantadas pelo MEC a propósito dos desvios das classificações de frequência e externa (exames nacionais) carecem de uma avaliação que não pode cair na ligeireza das análises a que têm sido sujeitos. 

As classificações internas de frequência são muito mais reveladoras das políticas locais de gestão do sistema educativo, decididas pelas escolas e pelos seus conselhos de turma, de departamento e pedagógico, que, apesar de não vincularem a direção da escola/agrupamento, relativamente às análises de necessidades de medidas que melhorem a qualidade das aprendizagens, são uma orientação, de facto, para o que deve ser feito em matéria de organização das aprendizagens e de avaliação.

Aspetos como comportamentos, gestão do trabalho em equipa, capacidade de intervir sobre o meio em que a escola se integra e resolução de problemas, trabalho cooperativo, atitudes e cidadania, não são avaliadas pelos exames e, por esse motivo, dão maior fiabilidade à avaliação interna decidida pelas escolas.

A FENPROF considera que a avaliação dos alunos é um dos processos que decorrem do conteúdo funcional dos professores que, pela sua exigência e impacto no futuro escolar dos alunos, deveria merecer uma maior atenção. Deve passar por uma reflexão ampla, envolvendo os vários agentes educativos, incluindo do ensino superior. Depositar nos exames o centro da atenção, de tudo o que é o percurso escolar de um aluno ao longo de vários anos de escolaridade, subverte a função da escola e condiciona as aprendizagens dos alunos. 

Como é do conhecimento público, a FENPROF considera que transformar as escolas, no terceiro período letivo, em “centros de estágio de alto rendimento” é prejudicial para os alunos, para as suas aprendizagens, interfere na estratégia de trabalho dos docentes e distorce a imagem da escola. Essa é uma questão de fundo que urge resolver e que se espera poder ter avanços, a partir do próximo ano, com a mudança de governo e de políticas para a Educação. 

O Secretariado Nacional da FENPROF
14/07/2015