Nacional

Síntese da reunião da Fenprof na AR

30 de janeiro, 2015

Na sequência da petição entregue na AR pela Fenprof, exigindo uma auditoria às contas da CGA, foi convocada pelo deputado relator uma reunião com alguns dos peticionários, para 15/7/14 na AR.

Integraram a delegação da Fenprof os dirigentes Teresa Maia Mendes(SPN), Graça Pedrosa e Isabel Melo(SPRC), Lígia Galvão(SPGL) e Augusto Lourido(SPZS). Estiveram também presentes os deputados Rita Rato(PCP), Artur Rego(CDS), para além do relator Pedro Marques(PS).

Começou este por nos informar que, passado o prazo de que o governo dispunha para se pronunciar sobre questões por nós levantadas no texto da petição, não tinha obtido qualquer resposta. Iniciou então o debate para esclarecimentos adicionais aos fundamentos da nossa petição.

Todos os elementos da delegação da Fenprof intervieram, destacando os seguintes aspectos :   

-- os fundamentos da petição eram claros e permaneciam actuais, sendo causa de preocupação e revolta entre os aposentados a continuada alegação de insustentabilidade da CGA por parte do governo, que se serve desse pretexto para aplicar cortes sobre cortes, seja por via da CES, da sua sucessora CS e outras taxas, impostos ou contribuições, todos concorrendo para uma acentuada degradação do valor real das pensões.

-- uma situação paralela se está de resto a verificar no caso da ADSE, onde as alegações de insustentabilidade já conduziram a um grande aumento da respectiva contribuição.

-- a descapitalização que a CGA terá sofrido não pode ser imputada aos aposentados, que sempre cumpriram a sua obrigação, efectuando os descontos contratualizados com o Estado.

-- essa descapitalização terá antes origem no fechamento do sistema a partir de 2005, no incumprimento do Estado no que se refere aos descontos que lhe competiam, na assumpção do pagamento de pensões aos trabalhadores da PT, CGD e CTT, sem que os respectivos fundos tenham sido integralmente transferidos para a CGA e no desvio de verbas que pertencem aos aposentados para pagamento de juros da dívida, para diminuição do deficit ou outras engenharias financeiras.

-- há responsáveis pela situação criada, que não os aposentados, sendo indispensável que sejam identificados, não só com o intuito de virem a prestar contas para que não venha mais uma vez a culpa a “morrer solteira”, mas também para corrigir erros cometidos.

-- a preocupação dos aposentados é ainda maior  por entenderem que a situação criada na CGA se insere num quadro mais vasto de estrangulamento das funções sociais do Estado, com a intenção de as entregar à iniciativa privada, tal como se tem vindo a delinear na Educação, na Saúde e na Segurança Social.

Interveio a seguir a deputada Rita Rato, que saudou a iniciativa da Fenprof, chamando no entanto a atenção para não se deixasse transformar esta auditoria numa oportunidade para o governo, invocando os desvios de verbas para outros fins que se venham a demonstrar, acabar de vez com a CGA. Por isso, alertou para que os resultados da auditoria deveriam ser acompanhados de propostas de medidas para inverter o rumo da descapitalização e repor a sustentabilidade do sistema. Traçou um quadro da actual situação dos aposentados inserido no cenário mais geral que a todos os portugueses atinge, referindo-se ao empobrecimento acentuado, ao desemprego, aos cortes em salários e pensões, à emigração forçada de centenas de milhares  de jovens qualificados, aos elevados impostos que se  impõem a quem trabalha, à destruição do Estado Social visando a privatização de sectores essenciais. Sublinhou ainda ser sempre sobre os mesmos alvos que o governo faz recair as medidas de austeridade, reservando para o sector financeiro uma contrastante tolerância, como se viu no caso BPN,BPP e presumivelmente agora no caso BES.

O deputado Artur Rego alegou haver imprecisões nos fundamentos em que baseamos a nossa petição, na medida em que considerava conterem acusações não imputáveis a este governo, que não governa desde 2005. Certamente devido a uma leitura apressada, ter-lhe-á passado despercebida a palavra “designadamente”, que deixa claro não estar este governo sozinho nas referidas acusações. Rápidamente esclarecido este ponto e assegurado o deputado de que a Fenprof não pretende isentar ninguém nem nenhum governo  quando pede esta auditoria, passou o deputado a desvalorizar outros fundamentos, alegando serem afirmações que nada traziam de novo, visto serem do conhecimento público, tal como o fechamento do sistema e  o incumprimento do Estado com os descontos. Insurgiu-se no entanto com a alegação de que as verbas estariam a ser utilizadas para outros fins, não tendo nós apresentado documentos comprovativos e interpelando-nos sobre se alguma vez tínhamos deixado de receber a nossa pensão, pois o governo tem o cuidado de as garantir, indo buscar verbas a outras fontes. Foi-lhe respondido que também o desvio das verbas da CGA para outros fins era do conhecimento público e que não será pelo facto de haver irregularidades que sejam do conhecimento público que a Fenprof se demitirá de pedir a responsabilização dos seus autores. Quanto à inexistência de cortes nas nossas pensões, foi-lhe lembrada a questão do subsídio de Natal e de férias, a CES, a sobretaxa no IRS e ainda o facto de serem hoje muitos aposentados confrontados com a necessidade de ser o suporte dos familiares mais jovens atingidos pelo desemprego. Assim, embora tenhamos sempre recebido a nossa pensão, nunca recebemos aquilo que nos é devido, chegando a haver casos em que a diferença atinge 800€, e discordamos que o governo tenha ido buscar verbas a outras fontes para nos garantir a pensão, tendo pelo contrário ido buscar verbas aos aposentados para outros fins.

Para encerrar, o deputado Pedo Marques disse não ir aguardar mais tempo por resposta do governo, passando já à elaboração do relatório, que apresentará em Setembro para em seguida descer ao plenário. Lembrou que nessa altura já haverá um quadro legislativo mais claro, após pronunciamento do TC.