Nacional
Compara o incomparável

Redutor, injusto e perverso, o "ranking" das escolas é um ritual envolto em demagogia

29 de novembro, 2014

Não é possível avaliar uma escola através dos resultados dos alunos em exames nacionais. A Lei de Bases do Sistema Educativo atribui à escola um conjunto de finalidades que vão muito para além da instrução. A formação integral dos alunos passa pela aprendizagem de conteúdos, mas também pela aquisição de competências e pelo desenvolvimento de capacidades e comportamentos que não são avaliáveis em testes de papel e lápis e cujos efeitos só são muitas vezes visíveis anos mais tarde. Porém, para a atual equipa do MEC, dada a sua visão estreita de educação, apenas importam os conhecimentos e capacidades mensuráveis através de metas curriculares, provas nacionais e exames, daí que, embora não sendo quem atualmente elabora o ranking, é, na verdade, quem o promove.

Não é legítimo comparar escolas cujas realidades educativas são diversas. Há uma multiplicidade de fatores que determinam o quotidiano escolar e que nenhuma escala classificativa poderá expressar. Uma avaliação séria das escolas (públicas e privadas) terá que ter em conta, entre outros elementos, os resultados dos alunos, mas também o contexto em que a escola se insere, os recursos de que dispõe e os processos que desenvolve.

Os rankings são apresentados como pretendendo tornar pública informação credível sobre o funcionamento das escolas, mas confundem a opinião pública e as famílias com informação redutora, parcelar e distorcida. Os resultados académicos refletem realidades que devem ser analisadas à luz de muitos fatores, especialmente de ordem sócio-económica, linguística e cultural. Por isso, não é legítimo colocar em pé de igualdade, em termos de resultados esperados, todas as escolas do país (públicas e privadas, do litoral e do interior). Estes rankings nada nos dizem sobre o contexto em que cada escola se insere, os recursos de que dispõe, os processos que desenvolve e os resultados que obtém nas várias vertentes do seu trabalho.

Os rankings comparam o incomparável e colocam no mesmo saco, ou seja, na mesma lista ordenada, os colégios que selecionam os seus alunos e as escolas públicas que, e muito bem, se organizam no respeito pelos princípios da educação inclusiva, acolhendo todos e a todos respondendo de forma adequada às suas necessidades.

A FENPROF considera que, numa sociedade democrática, os cidadãos têm direito a conhecer o funcionamento de um serviço público como é o da educação. Mas isso só é possível se for disponibilizada informação sobre todo o trabalho que se faz na escola e não apenas numa vertente que é disponibilizada pelo MEC à comunicação social, com as limitações que ao ministério interessa.

Os rankings, ao contrário do que se quer fazer crer, não estão ao serviço da melhoria da qualidade das escolas mas sim da elitização do sistema educativo e da introdução de uma lógica de mercado na educação, objetivo que é perseguido pelo atual Governo. Não é esse o caminho que a Constituição da República Portuguesa e a Lei de Bases do Sistema Educativo consagram e a FENPROF defende. O futuro constrói-se e a Democracia consolida-se com uma Escola Democrática que é pública, de qualidade, para todos, inclusiva e gratuita.

O Secretariado Nacional da FENPROF
29/11/2014