Nacional
FENPROF em conferência de imprensa, em Coimbra (30/07/2013)

MEC impõe novas medidas para provocar desemprego de docentes e beneficiar os "amigos" dos colégios privados (inclui vídeo - atualizado)

29 de julho, 2013

 

MEC DESRESPEITA ESCOLAS E ALUNOS, IMPONDO NOVAS MEDIDAS ORIENTADAS PARA DESPEDIR PROFESSORES!

QUE INTERESSES SE QUEREM SERVIR?

O sombrio e preocupante futuro que o governo reserva para as escolas públicas.
A politica de direita em benefício dos interesses privados e da criação ilegal de um mercado da educação
 


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CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

30 DE JULHO | COIMBRA

Escola Secundária com 3.º CEB D. Dinis

 MEC DESRESPEITA ESCOLAS E ALUNOS, IMPONDO NOVAS MEDIDAS ORIENTADAS PARA DESPEDIR PROFESSORES!

QUE INTERESSES SE QUEREM SERVIR?

 

O sombrio e preocupante futuro que o governo reserva para as escolas públicas.

A politica de direita em benefício dos interesses privados e da criação ilegal de um mercado da educação

 

Introdução

Na sexta-feira passada, dia 26 de julho, a generalidade das escolas públicas  e dos agrupamentos de escolas de todo o país eram informados, ao final da tarde,  sobre a decisão da DGEstE/MEC quanto à autorização de funcionamento de turmas e de cursos. Uma revelação verdadeiramente arrasadora e clarificadora do interesse do MEC em desmantelar o serviço público de educação. Falta saber se em relação aos colégios com contrato de associação o corte de turmas para homologação também existe ou se o MEC faz incidir os cortes exclusivamente sobre as escolas e agrupamentos que integram a rede pública de estabelecimentos..

As direções das escolas/agrupamentos foram surpreendidas por esta imposição do MEC e de imediato reagiram, pois tal significará, a confirmar-se:

  • menos capacidade de oferta educativa e formativa (designadamente nos concelhos do interior do país e nos estabelecimentos de ensino periféricos dos principais centros urbanos),
  • menor qualidade e diversidade da oferta disponibilizada pela rede pública,
  • extinção de milhares de postos de trabalho (afetando num primeiro momento os professores contratados, mas estendendo os seus efeitos aos docentes dos quadros de zona pedagógica e de escola/agrupamento, atirando-os, desde já, para a mobilidade interna e, no ano seguinte, para a mobilidade especial).

Os exemplos que se apresentam são paradigmáticos dos efeitos devastadores desta política de sufoco dos serviços públicos e da vontade do governo de, negando o preceito constitucional que considera a Educação um bem social, começar a dar passos para a criação de um lucrativo “mercado da educação”, a entregar de “mão-beijada” ao setor privado. Fica, assim, campo aberto para uma verdadeira caça ao aluno que passará a ser encarado com cifrões nos olhos de empresários do setor.

A FENPROF reafirma:

A EDUCAÇÃO NÃO É PRODUTO DE MERCADO E A ESCOLA PÚBLICA É UM BEM A DEFENDER E CONSOLIDAR!


A ATUAÇÃO DO MEC E OS SEUS EFEITOS

1. Face a uma redução do número de alunos, o MEC procedeu ao corte de turmas decididas em reuniões de rede (no plano regional) nas escolas públicas, mas, tanto quanto se sabe, terá mantido as turmas com contrato de associação atribuídas aos privados, havendo casos em que a pressão é enorme para que sejam autorizadas turmas nos privados não aprovadas no apuramento regional (em Coimbra, segundo informações recolhidas, isso passar-se-á, pelo menos, nos Institutos de Lordemão e Souselas);

 

Quadro 1 – Cortes motivados pelos racios alunos turmas e pela redução da população escolar
atingiu fortemente e no conjunto as escolas públicas

ESCOLA/AGRUPAMENTO

Turmas atribuídas

Em reunião de Rede

Pela DGEstE (26.07.2013)

Sec. José Falcão – Coimbra 

35 

30 

Agrup. Coimbra Centro 

87 

75 

Agrup. Coimbra Oeste 

93 

86 

Sec. D. Dinis – Coimbra 

17 

14 

Agrup. Coimbra Sul (*) 

79

70

Ag. Rainha Sta Isabel – Coimbra 

77

66

Ag. Gafanha da Nazaré – Aveiro 

84 

80 

Ag. do Fundão 

34 

20 

Ag. de Idanha-a-Nova 

44 

35 

Ag. de Alcaíns 

57 

48 

Ag. Pero da Covilhã 

33 

29 

Ag. Figueira de Castelo Rodrigo 

28 

15 

Ag. Guilherme Correia Carvalho - Seia 

63 

46 

Ag. de Trancoso 

39 

25 

Ag. de Cinfães 

80 

61 

Ag. Viseu Norte 

121 

106 

Ag. Viseu Sul (1CEB, Pré, CEF)) 

59 

52 

Sec. de Viriato - Viseu 

39 

31 

Ag. Saboia – Odemira 

15 

14 

Ag. Moura 

23 

21 

Ag. de Ourique 

32 

28 

Ag. de Montenegro - Faro 

43 

38 

Ag. de Aljezur 

32 

25 

Ag. Dr. Alberto Iria – Faro 

45 

42 

Ag. de Castro Marim 

14 

10 

Ag. de Vila do Bispo 

24 

21 

Ag. de Gavião 

17 

13 

Ag. n.º 3 de Elvas 

50 

47 

Ag. do concelho de Marvão 

19 

11 

Ag. D. Afonso III (Vinhais) 

40 

30 

Ag. de Marco 

122 

112 

Ag. de Castro Daire

110

89

Ag. de Teixoso – Covilhã

30

21

Ag. Ansião

76

62

Ag. Guia – Pombal

70

58

(*) turmas introduzidas na plataforma


2. MEC nada fez, até agora, para impedir que estabelecimentos do ensino privado retenham alunos, não os encaminhando para escolas públicas que têm turmas aprovadas em rede e que satisfazem as necessidades educativas e formativas desses alunos;

É o caso do Instituto Educativo de Lordemão, onde a pressão sobre os encarregados de educação para que mantenham os alunos neste estabelecimento de ensino, mesmo sem autorização para o seu funcionamento financiado, é enorme. Trata-se de um colégio com alvará para funcionamento do ensino secundário não subsidiado. O diretor tem pressionado o MEC para autorizar o financiamento público do ensino secundário, apesar de a cerca de 2 quilómetros existir uma escola secundária com recursos humanos e materiais de qualidade que garantem a frequência sem sobressaltos do ensino secundário regular e profissional.

Há testemunhos de que a direção do Instituto de Lordemão não entrega qualquer recibo em como foi feita uma matrícula e o diretor do colégio afirma que os jovens do 10.º ano aí “pré-matriculados” serão a prova do interesse dos pais na autorização de turmas do ensino secundário contratualizado com o Estado.

Certo é, porém, que no respeito pelo quadro legal em vigor, essas turmas não deverão ser autorizadas.

3. É ESTA A “AUTONOMIA” PARA NUNO CRATO: A decisão final quanto às turmas a atribuir a cada estabelecimento de ensino foi tomada centralmente pela DGEstE/MEC, sem ter em conta as realidades regionais e locais e apenas considerando os racios de alunos por turma, por ano ou nível de ensino, ou nem isso!

O MEC veio afirmar ter efetuado um exaustivo e rigoroso levantamento das necessidades. Onde? Em Lisboa? A centenas de quilómetros das escolas? Então, e que fizeram as escolas, no terreno? Brincaram com os números e a lei? Não! As escolas respeitaram os, já de si, estreitos critérios legais. O MEC, que tanto enche a boca com a palavra “autonomia” revelou qual é o seu conceito: as escolas têm autonomia para propor, mas é o aparelho centralizador do MEC que, indiferente à realidade, impõe!

Eis mais uma faceta da hipocrisia politica de Nuno Crato!

Trata-se de uma situação visível principalmente nos agrupamentos de escolas do interior do país, onde, por força das distâncias entre localidades, da baixa densidade populacional, do relevo mais acidentado, da menor segurança das vias de comunicação ou dos elevados custos de transporte escolares e das dificuldades das autarquias, a manutenção dos núcleos escolares existentes é sustentável e razoável. Ora, devido à visão administrativista com que o MEC interveio na organização da rede de turmas e de escolas, centralmente e a partir de Lisboa, acabou por se contradizer, pois as turmas homologadas não refletem qualquer estudo criterioso, nem tem em conta as necessidades efetivas das escolas e dos agrupamentos e muito menos das populações.

A decisão tomada pela DGEstE/MEC teve em conta apenas o objetivo de, à custa do serviço público de educação, da qualidade das ofertas educativas e do emprego docente, reduzir a despesa com salários de milhares de professores e educadores. Este governo não respeita a obrigação constitucional do Estado de garantir a oferta pública de ensino a toda a população portuguesa.

Um exemplo claro desta realidade é o que se passa com o Agrupamento de Escolas Guilherme Correia de Carvalho (Seia) cuja  extinção de 17 turmas, das quais 7 são do 1.º ciclo do ensino básico, poderá implicar a deslocação de crianças dos seus locais de residência entre 20 e 40 quilómetros. Ou o caso do Agrupamento de Escolas de Cinfães que, na decisão do MEC comunicada à direção do agrupamento, perde 19 turmas, das quais 11 são no 1.º ciclo do ensino básico, numa clara demonstração das características orográficas do concelho e da geografia da localização das povoações.

4. 
O MEC procedeu a um corte abrupto de turmas, designadamente no 1.º Ciclo do Ensino Básico, o que implicaria, nalguns casos, se tal se confirmar, a um movimento em massa de crianças para localidades muito longe dos seus locais de residência;

 

Quadro 2 – Nesta distribuição de rede, o 1.º Ciclo do ensino básico foi um dos níveis mais fustigados

ESCOLA/AGRUPAMENTO

Turmas do 1.º CEB atribuídas

Em reunião de Rede

Pela DGEstE (26.07.2013)

Agrup. do Fundão 

19 

11 

Agrup. Idanha-a-Nova 

15 

13 

Agrup. de Alcains 

21 

16 

Agrup. Coimbra Centro 

44 

37 

Agrup. Coimbra Sul 

36 

31 

Agrup. Rainha Sta Isabel - Coimbra 

43

36

Agrup. Figueira de Castelo Rodrigo 

12 

6 

Ag. Guilherme Coreia de Carvalho – Seia 

29 

22 

Agrup. de Trancoso 

9 

7 

Agrup. de Cinfães 

33 

22 

Agrup. Viseu Norte 

50 

43 

Agrup. Viseu Sul 

42 

38 

Agrup. de Monchique 

10 

7 

Agrup. D. Afonso III 

13 

8 

Agrup. de Marco 

52 

49 

Agrup. de Castro Daire

35

27

Agrup. de Teixoso – Covilhã

11

9

Agrup. de Aljezur

11

9

Agrup. Ansião

27

23

Agrup. Guia – Pombal

22

17 

 

5. O MEC mantém o funcionamento e o financiamento de turmas em instituições de ensino privado, cujos motivos para a sua manutenção já não existem;

Quer no concelho de Coimbra, quer no concelho de Viseu, apenas para referir dois exemplos de uma região que tem das maiores concentrações de instituições privadas com contrato de associação, as escolas públicas oferecem condições de espaço, de organização, de recursos humanos e materiais, de atividades extra curriculares em número e em qualidade para que a oferta educativa e formativa lhes seja totalmente atribuída.

Assim, de uma forma geral, os contratos de associação nestes dois concelhos parecem corresponder, na maior parte dos casos, a favores prestados a proprietários dos colégios e decorrem de um fechar de olhos a requisitos legais que o MEC quer agora eliminar.

A medida seguida cegamente por este governo de manutenção de um número elevado de contratos de associação com colégios privados é essencialmente ideológica, não tem qualquer relação com opções de gestão da rede de oferta de ensino básico e secundário e é ilegal e inconstitucional, pelo que deve ser objeto de uma revisão criteriosa.

Num estudo realizado pela Universidade de Coimbra, em 2011, produziu-se uma projeção das necessidades de equipamentos de educação e ensino no país e Coimbra era apontada como aquela onde era necessário reduzir-se o número exagerado de turmas atribuídas e financiadas pelo Orçamento do Estado.

6. O MEC recusa o funcionamento de turmas de cursos profissionais e vocacionais, bem como CEF, nas escolas públicas.  Que interesses se estarão a levantar?

Esta é uma realidade que a FENPROF ilustra com 3 concelhos do distrito de Aveiro e que é uma situação que se verifica em todo o país:

 

Quadro 3 – Dados obtidos a partir da publicação feita pela DGEstE, em 26 de julho

Concelho

Escola/AE

Curso

Turmas

Público

Privado

Homologadas

N/Homologadas

Anadia

AE Anadia

CProfissional

0

4

0

 

CVocacional

1

0

1

 

EP V E Bairrada

CProfissional

2

2

 

2

Águeda

AE Águeda

CProfissional

1

4

1

 

CEF

0

2

0

 

CVocacional

1

0

1

 

ES Adolfo Portela

CProfissional

2

2

2

 

CVocacional

1

0

1

 

EB Valongo do Vouga

CEF

0

2

0

 

Olª Bairro

AE Oliveira do Bairro

CProfissional

0

4

0

 

CVocacional

1

0

1

 

I P S Bustos

CProfissional

2

0

 

2

Colégio de Calvão

CProfissional

1

2

 

1

Face a esta situação as perguntas que ficam são as seguintes:

  • Por que razão o MEC, num completo desrespeito pela exigente tarefa de organização do próximo ano letivo, só em 26 de julho divulgou a lista de turmas para homologação que deveria ter sido conhecida em junho? E por que razão nessa lista ignorou o trabalho desenvolvido pelas escolas e destas com os próprios serviços regionais de administração educativa?

 

  • Que interesses procuram servir neste despacho de turmas para homologação que, ainda por cima, surge no momento em que as escolas já tiveram de informar os pais da oferta existente, bem como aceitar as matrículas dos alunos:
  • Interesses (dos) privados?
  • Interesses financeiros, transferindo, por exemplo, alunos de cursos profissionais e vocacionais, bem como CEF, para a esfera do IEFP, desviando jovens que se encontram a cumprir a escolaridade obrigatória para respostas formativas que deveriam dirigir-se a adultos?
  • Outros interesses financeiros, nomeadamente uma redução ainda maior do número de professores contratados nas escolas e o alargamento do contingente de docentes a remeter para as mobilidades, para já interna e depois especial? (as escolas têm até hoje para lançar na plataforma de “horários-zero” os professores sem componente letiva atribuída, podendo, este ano, ser ultrapassado o máximo histórico atingido há um ano e que foi superior a 15.000 professores, recordando que só os docentes de QZP são mais de 11.700!)
  • Interesses políticos, de cariz ideológico que se orientam para a progressiva fragilização das respostas que são dadas pelas escolas públicas, nomeadamente no que respeita à sua quantidade, qualidade e diversidade?

 

A FENPROF exige as respostas que, neste momento, se tornam obrigatórias! As escolas não podem viver numa lógica de “quem não chora não mama” como parece estar a acontecer com escolas que, contactando serviços regionais e nacionais da DGEstE conseguem autorização para as turmas que pretendem. As escolas fizeram um trabalho sério e rigoroso de levantamento de necessidades, não sendo admissível que o MEC o ponha em causa!

Passos Coelho, na qualidade de primeiro-ministro, afirmou, há dias, que o país não pode andar a pagar a quem não precisa! Pois bem, o país precisa dos seus professores nas escolas. O que não é preciso são governantes que estão a desmantelar a Escola Pública, atacando-a “forte e feio”!

Infelizmente, Portugal parece viver um novo ciclo político, mas de políticas muito velhas. Tão velhas quanto os desejos de “salvação nacional” ou “união nacional” fazem lembrar. Reduzir a Escola Pública a respostas mínimas e de menor qualidade é parte desse “novo” ciclo político.

Como António Nóvoa afirmou no 11.º Congresso da FENPROF, “A Escola Pública, apesar de todas as suas deficiências, tem sido fator de progresso e coesão, tem sido base do Portugal Democrático. É uma Escola que alguns querem agora pôr em causa. Criando divisões e fraturas,  restaurando velhas políticas, feitas de ideias velhas  de velhos preconceitos”.

A FENPROF acompanha esta opinião e lutará contra as politicas que visam pôr em causa a Escola Pública.

O Secretariado Nacional da FENPROF
30/07/2013