Nacional
Depoimentos

Mais vozes em defesa da escola pública

08 de junho, 2016
Caros amigos,
Infelizmente não poderei estar presente hoje. Mas não quero deixar de vos enciar um forte abraço ee solidariedade nesta luta.
Para quem contratou uma agência de comunicação e gastou muitos milhares de euros em material de propaganda, não são 79 colégicos que estão em causa. O que está em causa é um objectivo de longo praso. Na educação, mas também na saúde ou na segurança social. O objetivo é criar um mercado privado de serviços públicos subsidiados pelo Estado. No caso da educação, isso traduz-se no cheque-ensino ou noutras formas de privatização. Como indicam os estudos de opinião,, falta-lhes o apoio popular para tão ambiciosa empreitada. Por isso, tentam chegar lá por atalhos.
Todos sabemos como acaba esta história. Na Suécia, acabou com a queda a pique da qualidade do ensino. Porque a liberdade de escolha, quando o mercado finalmente se instala, é sempre e só a liberdade dos colégios escolherem os alunos. E isso resulta num ensino dual, onde umas escolas fica com o que lhes garante um ambiente mais fácil de gerir e melhores resultados nos rankings e nas outras fica tudo o que exige mais esforço e competência: os alunos com necessidades educativas especiais, os problemas disciplinares, os contextos sociais e familiares difíceis. A escola fácil conseguirá cada vez melhores resultados, a difícil vai-se afundando. A escola que querem é a escola que começa a selecionar à partida.
Sou, como a esmagadora maioria dos portugueses, um filho da escola pública. Apesar de todas as dificuldades, sei que é na escola pública que mais nos aproximamos desse desejo universal de dar a todos uma igualdade de oportunidades. É a escola pública que mais se aproxima do país real, com a sua diversidade e as suas dificuldades. E é a escola pública que melhor nos prepara para a vida.
Numa sociedade já tão desigual, não quero crianças e jovens dividios entre a escola que seleciona para dar de si uma falsa imagem de excelência e a escola-gueto, onde ficam aqueles a que se marca o destino à partida. Cada pai tem a liberdade de escolher a escola dos seus filhos, mas ao Estado cabe dar a todos o que é de todos. E para quantos mais for a escola pública melhor será. É à escola pública que devemos, nos últimos 42 anos, um salto cultural como este país nunca tinha vivido na sua história. É por isso que temos o dever de impedir o regresso da escola selectiva e elitista. Não entregaremos o que é nosso a quem nos quer vender o que é seu. 
Daniel Oliveira