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Texto de opinião de David Rodrigues

05 de janeiro, 2014

O ministro Nuno Crato veio reanimar uma ideia da autoria da sua antecessora Maria de Lurdes Rodrigues: a realização de um exame para acesso à carreira de professor.

A forma como todo este processo se tem desenrolado é muito penalizador para a imagem e para o prestígio da carreira docente porque evidenciapor parte do ME falta de conhecimento e de consideração pelas funções docentes. Sucintamente referiria três aspectos que me parecem muito sintomáticos desta falta de conhecimento e consideração:

  1. O Ministério da Educação (ME) é ao mesmo tempo responsável pelas escolas de formação de professores e pelas escolas de formação dos alunos. Exigir um exame suplementar aos candidatos a professores evidencia falta de confiança nas escolas de formação. Isso em si não seria um problema: se tem falta de confiança na formação, cabe-lhe pronunciar-se sobre os níveis e os parâmetros que considera devem ser respondidos pelas instituições de ensino superior. Escudar-se sob a capa da “autonomia do Ensino Superior”, não atuar e depois desacreditar o processo, não é correto.
  2. Um exame de acesso a uma profissão deve ser feito sobre todas (ou pelo menos sobre amaioria) das competências que a profissão implica. Conceber um exame sobre “aspectos gerais” e exclusivamente teóricos indicia um desconhecimento da profissionalidade do professor e infantiliza quem a faz. (É imperdível aquela peça televisiva em que alunos do ensino secundário dizem que a prova a que os seus futuros professores foram submetidos é incompreensivelmente fácil para eles…)
  3. Há falta de consideração pela competência adquirida no terreno. Esta falta de consideração avalia-se pelo facto de inicialmente a prova ter sido pensada para todos os professores contratados (mesmo com muitos anos de serviço); isto mostra um soberano desprezo pela experiência que estes professores adquiriram em situações reais.  Fruto da negociação o exame abrangeu somente professores com menos de cinco anos de serviço mas… porquê cinco anos?  É a partir do sexto que se fica sábio?

Tenho muitos anos de acção e reflexão sobre formação de professores e parece-me que esta situação é inadmissível. Aponto dois aspectos que poderiam contribuir para que este absurdo não se passasse: a) é preciso reabrir o diálogo (abruptamente encerrado por declarações imprudentes do ministro) com as ESE’se as Universidades de forma a sintonizar melhor o que o ministério quer e as escolas devem levar em conta, b) Se um dia for acordado entre professores e ME que é imprescindível que haja uma prova de acesso para candidatos sem experiência (repito SEM experiência), que essa prova leve em conta um conjunto de conhecimentos científicos e competências profissionais nomeadamente na área das Ciências da Educação que sejam claramente formuladas e que assim, torne possível a preparação prévias dos candidatos. / David Rodrigues