Carreira Docente
Os rankings servem para induzir uma lógica de mercado na educação mas não servem para avaliar as escolas

Mais rankings de escola, mais demagogia

18 de outubro, 2004

Pelo quarto ano consecutivo foram elaboradas listas ordenadas das melhores e piores escolas secundárias do país, a partir dos resultados dos alunos nos exames nacionais do 12º ano.

A FENPROF demarca-se mais uma vez desta iniciativa e reafirma que o discurso que reduz os indicadores de qualidade das escolas aos resultados dos alunos em exames é mistificador e demagógico.

1º Os rankings são apresentados como um instrumento de avaliação das escolas, mas não é possível avaliar as escolas tendo apenas em conta os resultados dos alunos em exames. A Lei de Bases do Sistema Educativo atribui à escola um conjunto alargado de finalidades. A formação integral dos alunos passa pela aprendizagem de conteúdos mas também pela aquisição de competências e pelo desenvolvimento de capacidades e comportamentos que não são avaliáveis em testes escritos e cujos efeitos só são muitas vezes visíveis anos mais tarde.

2º Os rankings são apresentados como pretendendo tornar pública informação credível sobre o funcionamento das escolas, mas confundem a opinião pública e as famílias com informação redutora, parcelar e distorcida. Os resultados académicos reflectem realidades que devem ser analisadas à luz de muitos factores, especialmente factores sócio-económicos, linguísticos e culturais. Por isso, não é legítimo colocar em pé de igualdade, em termos de resultados esperados, todas as escolas do país (públicas e privadas, do litoral e do interior). Estes rankings nada nos dizem sobre o contexto em que cada escola se insere, os recursos de que dispõe, os processos que desenvolve e os resultados que obtém nas várias vertentes do seu trabalho.

3º Os rankings são apresentados como pretendendo ser um estímulo à melhoria das piores escolas mas acabam por lhes colocar dificuldades acrescidas, tonando-as alvo de discriminação e desmoralizando alunos, professores e pais. A experiência de rankings noutros países torna evidente que, por força de ter que melhorar o seu posicionamento no ranking, as escolas tendem a concentrar o seu trabalho na vertente da instrução em detrimento da educação/formação e a recusar receber alunos com necessidades educativas especiais ou com resultados que lhes possam baixar as médias; as escolas passam a escolher os seus alunos e muitas famílias não têm a possibilidade efectiva de escolha; o ranking leva ao estabelecimento de escolas de diversas categorias, à constituição de elites e à estigmatização dos menos bem sucedidos.

A FENPROF é a favor da avaliação das escolas e lamenta, mais uma vez, o fim do programa de Avaliação Integrada, que disponibilizava aos cidadãos informação credível sobre o trabalho das escolas.

A seriedade e o rigor obrigam a que se assuma, de uma vez por todas, que os rankings servem para induzir uma lógica de mercado na educação mas não servem para avaliar as escolas.

Por isso a FENPROF não pode deixar de denunciar a publicidade enganosa que estes rankings representam e a irresponsabilidade com que se catalogam as escolas em boas e más, melhores e piores, em função do lugar relativo que ocupam no ranking.

O Secretariado Nacional da FENPROF

1/10/2004